Negócios que estendem ao mercado atividades domésticas exercidas para consumo próprio impõem o “andar em círculos” no inóspito terreno da concorrência.
Empoderamento, empreendedorismo feminino, igualdade de gênero, enfim tantas palavras que surgiram nos últimos anos para explicar a inserção das mulheres no mundo dos negócios como protagonistas dos seus próprios destinos, passam verniz na dura realidade de que, na maioria dos casos, reforçam o esteriótipo de atividades domésticas serem um “carma” para o sexo feminino assim como estética e beleza dão ar de visão rasa (e fútil) da vida pelo sexo frágil.
Não muito incomum, o empreendedorismo ser sinônimo de saída única para a sobrevivência de desempregados e pessoas com perfil familiar menos atraente para o mercado de trabalho (inclui mães, mães solteiras, mães com filhos especiais, etc.) e, essa saída, acaba sendo pela porta do lugar comum de ampliar o uso de habilidades para execução de serviços domésticos ou relacionados ao bem estar,alimentação e beleza, afastando cada vez mais da divisão de espaços com os homens em negócios cujas atividades são demandadas pelos consumidores do sexo masculino ou equilibradamente por ambos. Lavanderias, agências de diaristas, restaurantes, esmalterias, salões de beleza, restauração estética, estão no podium dos negócios mais empreendidos por mulheres. Muitos desses negócios são, basicamente, sob o invólucro do “Micro Empreendedor Individual” – MEI, que passa a enganosa sensação de autonomia e distância do modelo “CLT” de relação de trabalho.
Outro aspecto do “empreendedorismo feminino” é o horizonte de faturamento que seus respectivos negócios proporcionam, uma vez que acabam empreendendo em setores como serviços domésticos, beleza e alimentação. Estas áreas, porém, não costumam envolver tanta inovação, o que resulta em negócios vulneráveis, produtos com menos valor agregado e menor faturamento.
Barreiras adicionais
No Brasil, as mulheres empreendem tanto quanto os homens, porém, enfrentam barreiras adicionais que impedem que seus negócios avancem. Tais obstáculos vão muito além do saber fazer um plano de negócio, e incluem crenças culturais sobre os deveres delas na sociedade.
De acordo com o Sebrae, 46% dos empreendimentos iniciados no Brasil são de mulheres. Já entre os empreendedores bem estabelecidos, 31% delas têm ensino superior completo, em comparação com 22% dos homens. Mesmo mais escolarizadas, elas ainda faturam menos que eles: enquanto 31% dos homens têm renda familiar acima de 6 salários mínimos, o número cai para 22% quando falamos das empreendedoras.
Desigualdade no mercado de trabalho
O mercado de trabalho brasileiro segue desigual para as mulheres, com menores salários e participação, mesmo que a escolarização feminina seja superior à masculina. É o que aponta uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (8), o Dia Internacional da Mulher.
Os dados — referentes a 2022 — apontam que 53,3% das mulheres participam da força de trabalho. Enquanto isso, a taxa masculina é de 73,2%.
Liderança
Outro aspecto, é a relação ainda de “Adão e Eva” nas entidades de classe, partidos políticos e clubes socio-esportivos. É como que fossem um “apêndice da costela de Adão” de uma diretoria predominantemente masculina afetada pelos hábitos, costumes e cultura de um modo geral. As associações Comerciais, por exemplo possuem os “Conselhos da Mulher Empreendedora” que atenuam a falta de mulheres no histórico da liderança de mandatos de diretorias-executivas. No Vale do Aço, os conselhos das 3 principais cidades, buscam captação de recursos extras para o desenvolvimento de suas atividades. Além disso, possuem reconhecimento indiscutível quanto ao papel de apoiar mulheres que desejam empreender, assim como dar suporte às que já estão há mais tempo no mercado. As associações de classe avançaram muito a esse respeito, mas o próximo passo ainda é desafiador: Quebrar sequências de presidências predominantemente masculinas.
Isso, porque ainda, os “conselhos”, estão submetidos ao aval das diretorias que, por sua vez, são compostas majoritariamente por homens. Em Ipatinga, o tradicional almoço anual do CME que reúne as principais empreendedoras do município, busca ser autossustentável e ainda gerar receita para o desenvolvimento de ações durante o ano. Este ano, foi realizado na última sexta-feira (08), no Hotel San Diego. Na oportunidade várias homenagens foram realizadas remetendo a performance das empresárias e seus respectivos negócios durante o ano de 2023. Para Edilene Lopes, presidente do CME da Aciapi-CDL, o empreendedorismo feminino tem crescido muito e está mais valorizado nos dias atuais, principalmente porque a mulher é múltipla, no que tange seu papel na sociedade. ”No Conselho da Mulher Empreendedora é a mesma coisa, somos mulheres empreendedoras e com muita vontade de fazer a diferença, queremos cada vez mais ajudar mulheres a empreender, confiar no seu trabalho e realmente fazer um trabalho que o diferencial seja o companheirismo, amizade, amor ao que fazemos” observa a empresária.
Também, os partidos políticos criaram uma direção paralela subjugada à direção executiva (esta, essencialmente formada por homens). Exemplo é o Partido Liberal, PL, do ex-deputado Waldemar da Costa Neto, que abrigou o movimento Bolsonarista para a disputa das últimas eleições. Foi Criado o “PL Mulher” que não tem reconhecimento institucional pelo Tribunal Superior Eleitoral, TSE, mas se apoia em uma “pseudoindependência” em sua constituição. A deputada Federal Rosângela Reis, radicada no Vale do Aço, é a vice-presidente do “PL Mulher”, parceira da ex-primeira dama Michele Bolsonaro, atual presidente.
Visão de futuro
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho,OIT, o aumento da participação das mulheres que não ocupam nenhuma posição no mercado de trabalho poderia injetar mais de R$ 382 bilhões na economia brasileira até 2025. Isso representaria um aumento no PIB de 3,3%.
Portanto, a inclusão de mulheres no mercado de trabalho e o investimento em sua qualificação significa a possibilidade de alcançar melhores níveis socioeconômicos.Esse é um ótimo motivo para as empresas tratarem a igualdade de gênero como prioridade. Outrossim, as que querem empreender, os órgãos de fomento, políticas públicas e o mercado consumidor precisam tratar de forma diferenciada. É importante lembrar que o empreendedorismo já nasce com a mulher: somente ela pode gerar empreendedores!