O futuro da operação do grupo varejista Cencosud no Brasil tem gerado divergências dentro da companhia chilena. Existem discordâncias entre a linha de frente da empresa e o controlador, o alemão naturalizado chileno Horst Paulmann. O CEO do grupo, Jaime Soler, tem defendido a saída da empresa do país por acreditar que o negócio deve continuar consumindo recursos, sem a perspectiva de recuperação dos investimentos a curto e médio prazos.
Paulmann, fundador da empresa e com perfil centralizador, chegou a sondar o mercado em 2015 para verificar potenciais interessados no negócio como um todo, mas é contra a venda da operação neste momento. Para o empresário, uma negociação nas condições atuais, com resultados ainda fracos, depreciaria o ativo. Também poderia passar uma percepção negativa aos investidores, já que o grupo anunciou, em 2017, um plano de desinvestimentos para reduzir a alavancagem – sem incluir o Brasil.
Essas diferenças sobre a forma como Soler e Paulmann veem a operação local pesaram na decisão de Soler de renunciar ao cargo de CEO. No fim de junho, a Cencosud informou que o executivo deixará a função, numa movimentação que surpreendeu os investidores. Soler, que alegou “razões pessoais” para a renúncia, permanece no cargo até 30 de setembro. A saída foi negociada para evitar maiores ruídos na transição, inclusive já com a escolha de Andreas Strobel, CEO da Enel Distribución, como novo CEO.
O grupo, o quarto maior supermercadista do país, dono da rede Prezunic, no Rio de Janeiro, da sergipana G.Barbosa, da mineira Bretas e das baianas Mercantil Rodrigues e Perini. soma 200 lojas e R$ 2 bilhões em vendas de janeiro a março no Brasil. Em reais, há queda nas vendas de 2,3% sobre o ano anterior. Em 2017, a retração foi de 5,5%. O futuro da Cencosud no país tem sido objeto de conversas entre executivos do setor de supermercados nas últimas semanas.
Uma fonte próxima ao grupo chileno disse que a Cencosud estaria considerando a hipótese de se desfazer da operação brasileira se a recuperação econômica não se acelerar. “Eles entendem que o fundo do poço já passou, e é isso que ainda sustenta os planos de manutenção dos negócios no país por enquanto. Mas há claramente uma frustração”, diz um ex-executivo da companhia.
Em 2015, a hipótese de venda chegou a ser analisada, mas com a perda no valor da operação, e em meio à recessão econômica, a ideia não avançou. “A intenção na época era melhorar o negócio antes de vender. Já se passaram três anos e não há uma recuperação mais rápida nos números. No cenário atual, vender seria perder dinheiro”, diz o ex-executivo. A Cencosud negou a possibilidade de sair do país. Sobre a existência de discordâncias no comando, a empresa preferiu não se manifestar.
A Cencosud entrou no Brasil em 2007 e, até 2011, gastou cerca de R$ 3 bilhões em aquisições. Em 2012, gerava R$ 9,7 bilhões em vendas brutas. Em 2017, esse valor caiu para R$ 8,5 bilhões, segundo os rankings da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). A rede Bretas teve neste ano a primeira taxa de crescimento nesse quesito desde 2014. Mas ainda não há indicação clara de uma virada nos números da companhia.
A empresa menciona esses avanços no último balanço, mas afirma que a “deflação de alimentos e o fechamento de 11 lojas no último ano”, além da piora econômica nas regiões onde atua, afetaram os números de 2018. Desde março, executivos da linha de frente deixaram o negócio – e a companhia ainda não tem novo CEO no país.
O diretor-geral das redes G.Barbosa e Perini, Ivo Benderoth, pediu demissão semanas atrás e, antes dele, deixou a empresa José Rafael Vásquez, diretor do Bretas. Benderoth foi para a varejista Casa & Vídeo e Vásquez para a rede de farmácias Pague Menos. Em março, Cristián Gutierrez deixou o cargo de presidente da companhia e voltou ao Chile. Sebastián Los, diretor de administração e finanças, ainda é o interino na posição.
(Fonte: Valor Econômico)