Haddad anuncia pacote fiscal e promete economia de R$ 70 bilhões em 2 anos

Legenda: Fernando Haddad, Ministro da Fazenda.

Fernando Haddad e ministros detalharam as medidas de corte de gastos anunicadas ontem à noite. Confirmação da isenção do IR desvia foco sobre as medidas do pacote fiscal anunciadas ao mesmo  tempo. 

Depois de uma espera de mais de um mês e de sucessivas reuniões entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alguns dos principais ministros do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, finalmente anunciou as principais medidas do pacote de corte de gastos do Executivo federal na noite desta terça-feira em rede nacional, o que vinha sendo aguardado com um misto de tensão e expectativa pelo mercado. Contudo, o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais (atualmente, estão isentos aqueles que ganham até R$ 2.259,20 por mês) que somente será válida em 2026, tirou  o foco dos debates e gerou confusão no mercado. O dólar pulou para perto de R$6,00(R$5,99) assim que o Ministro encerrou, às 9h30min, a sua participação em entrevista coletiva com os demais ministros da área econômica e política do governo na manhã desta quarta-feira.

Obsessão

Para o mercado, o Ministro foi obrigado a “engolir” uma espécie de medida compensatória para não afetar a popularidade do governo anunciando as primeiras medidas do pacote fiscal juntamente com a que o governo vai isentar do Imposto de Renda (IR), a partir de 2026, os contribuintes que recebem até R$ 5 mil mensais.

A elevação da faixa de isenção do IR é uma promessa de campanha de Lula e, segundo interlocutores no Palácio do Planalto, se tornou quase uma “obsessão” do presidente da República desde que assumiu o terceiro mandato, em janeiro do ano passado.

Como forma de compensação ao aumento das despesas por causa da ampliação da faixa de isenção, o governo propõe a taxação de lucros e dividendos superiores a R$ 50 mil por mês, que hoje estão isentos. A estimativa do Planalto é a de que essa taxação compensaria integralmente a elevação do gasto com a isenção ampliada do IR.

Gastos Públicos

O ministro da Fazenda também anunciou medidas para conter os gastos públicos, a principal preocupação dos agentes econômicos. Entre elas, estão:

  • Inclusão da política de aumento do salário mínimo nas limitações do arcabouço fiscal;
  • Proposta para acabar com salários acima do teto constitucional, os chamados “supersalários”;
  • Um chamado para que beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), atualizem seus dados, caso não o tenham feito nos últimos dois anos;
  • Mudanças nas regras de aposentadorias e pensões dos militares, como o fim da morte ficta – que permite o pagamento de pensão a parentes de quem foi expulso das Forças Armadas;
  • Fixação de idade mínima de aposentadoria dos militares (55 anos), acompanhada de uma regra de transição.

De acordo com as estimativas da equipe econômica, o conjunto de medidas do pacote fiscal deve gerar uma economia de cerca de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões por ano.

Salário mínimo dentro do arcabouço e revisão de programas sociais

No pronunciamento, Fernando Haddad não entrou nos detalhes a respeito das medidas do pacote fiscal, o que deve acontecer apenas na quinta-feira (28), quando o ministro participará de uma entrevista coletiva.

Segundo Haddad, o reajuste do salário mínimo ficará limitado a 2,5% ao ano, além da inflação. Pela regra atualmente em vigor, o aumento do mínimo é calculado com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 12 meses (de dezembro do ano anterior a novembro do ano vigente), mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano retrasado.

Na prática, isso significa que, se o PIB do Brasil deste e dos próximos anos avançar mais de 2,5%, o reajuste do mínimo será menor, com as novas regras, do que o previsto atualmente.

Aposentadoria dos militares e “combate a privilégios”

No pronunciamento em rede nacional, o ministro da Fazenda também mencionou as medidas que alteram regras da aposentadoria dos militares – que entraram de última hora no pacote, também a pedido de Lula.

O governo estabelecerá uma idade mínima, com uma regra de transição, o que prevê que as aposentadorias sejam escalonadas. Além disso, a proposta é acabar com as pensões por morte ficta – quando a família de um militar expulso da corporação recebe uma pensão.

Em seu pronunciamento, Haddad disse ainda que as medidas do pacote fiscal “também combatem privilégios incompatíveis com o princípio da igualdade”.

“Vamos corrigir excessos e garantir que todos os agentes públicos estejam sujeitos ao teto constitucional. Juntos com o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, aprimoramos as regras do orçamento”, disse o ministro.

Segundo Haddad, o montante das emendas parlamentares deve crescer abaixo do limite das regras fiscais — e 50% das emendas de comissão passarão a ir “obrigatoriamente” para o Sistema Único de Saúde (SUS).

“Para garantir os resultados que esperamos, em caso de déficit primário, ficará proibida criação, ampliação ou prorrogação de benefícios tributários”, concluiu Haddad.

 

LEIA TAMBÉM

LEIA TAMBÉM