BANNER CENIBRA QUEIMADAS 2024

Clínicas populares: uma saída para o SUS?

A proliferação de negócios voltados para a economia popular indicam menor universalização do SUS no futuro e potencial dedicação exclusiva ao tratamento reparador.

A Saúde, um setor reconhecidamente carente no Brasil, tem passado por transformações nos últimos anos com a abertura de franquias de clínicas médicas e odontológicas populares.

Esses espaços têm aproveitado uma enorme demanda do qual o Estado brasileiro não é capaz de atender, além de oferecer, muitas vezes, serviços de qualidade superior aos oferecidos, por exemplo, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As franquias de clínicas médicas e odontológicas atualmente presentes no mercado trabalham com modelos de operação cujo o custo de manutenção é baixo para o empreendedor e o serviço barato para os pacientes, o que ajudou a popularizar esse segmento.

Estima-se que o governo federal invista R$ 80 bilhões por ano em saúde pública no Brasil. Enquanto isso, outros R$ 90 bilhões são movimentados pelo sistema privado de saúde como hospitais, clínicas e laboratórios. Os dados são do próprio governo.

As clínicas populares se caracterizam por oferecer serviços até o estágio resolutivo da propedêutica. Consultas, exames e terapias. Pronto atendimento e internação, dado o nível de imprevisibilidade, estão fora do cardápio. Há algumas que avançam na oferta de serviços de Hospital/Dia.

Em sua maioria, consultas para clínico geral são acessadas em um valor e especialidades médicas com valor um pouco maior, mas ainda assim acessível.

Vale do Aço

A Clínica de Todos cuja origem foi no mundo sindical, com o economista Altair Vilar, no início dos anos 2000, foi a primeira empresa do segmento que se transformaria no grande empreendimento “cartão de Todos” com presença internacional. Atualmente são mais de 3,8 milhões de famílias segundo dados compilados do site. O foco do negócio são os serviços de saúde, educação e lazer voltados para as classes socioeconômicas “C” e “D”.

A AAPI conta com associados em mais de 52 municípios e está presente em Ipatinga, Fabriciano, Belo Oriente, Ipaba e, brevemente, em Timóteo.

Enquadra-se, também, nesse contexto a AAPI, Associação dos Aposentados e Pensionistas de Ipatinga que, em 2018, abriu seu quadro societário ao todos maiores de 18 anos. AAPI, ao contrário de se apresentar como cartão que dá acesso a serviços com desconto ou preços populares, ela vai além. Poderia se denominar um “Cartão-gratuidade”. Ao contribuir mensalmente com a entidade ela retorna em benefícios majoritariamente gratuitos. O mecanismo de mutualismo e solidariedade que se ajusta a nomenclatura atual de “Negócio Social”.  Dentre os principais benefícios estão Consulta grátis com clínicos e especialistas, hospedagem em Complexo turístico próprio na cidade de São Mateus no Espírito Santo, Clube de lazer, Assistencia social com locação de equipamentos ortopédicos e doação de fraldas geriátricas. Atualmente, possui mais de 38 mil associados.

Outro que corre por fora é a Promédico. A empresa cujo Dr. José Ronaldo Ambrozio está à frente, possui clínica no centro de Ipatinga sendo suportada por um Hospital em Inhapim e está, em pleno curso, projeto de construção de um Hospital/Dia no Parque dos Vales, na BR 456, saída para Caratinga. Com uma estrutura ampla e moderna, a Clínica ProMédico atende em mais de 26 especialidades.

Fusões

No Rio de Janeiro, essa semana, a Alba Saúde e o Centro Clínico Pastore se fundiram numa transação que une as duas maiores redes de clínicas populares do Rio de Janeiro. A transação vai dar origem a uma nova empresa — a Dot Saúde — que começa com 19 unidades, faturamento de R$ 60 milhões, e será controlada 50/50 pelos acionistas da Alba e do Pastore.

Na Alba, os principais acionistas são o fundador Paulo Granato — cuja família é dona do laboratório Granato e da Policlínica Granato — e o Albatroz, o veículo de investimentos da família Icaza.

Franquias

Na área médica se destacam a Dr. família que possui unidades no Vale do Aço, assim como a Doctor Med, que está presente em 12 estados do país. Outra Made In Vale do Aço, a Mais Saúde já está presente no Norte Fluminense com unidade na Cidade de Campos do Goytacazes.

A Dr. Consulta, o nome mais conhecido do ramo, decidiu apostar as fichas numa estratégia de tecnologia mais rentável, mas também colocou um pé na fidelização pelos descontos por meio de um investimento na Yalo, uma startup de benefícios médicos.

No auge, estão as odontológicas Odonto Company que tem nos apresentadores Ratinho e Rodrigo Faro seus garotos propaganda. A paulista “Sorridents” já é veterana comais de 25 anos de atuação e propõe retorno do investimento de 24 a 36 meses e um faturamento médio mensal de R$150 mil mensais. No cidade Nobre, recentemente inaugurou uma franquia da catarinense Oral Unic especializada em implantes.

*Com informações do portal do franchising 

“Privatização do SUS”

No início do governo Bolsonaro, logo no início da sua gestão, o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em entrevista ao Roda Viva que mandaria uma “mensagem” ao Congresso para que parlamentares discutissem se o SUS deveria ser 100% gratuito para todos, contrapondo dois princípios do sistema público brasileiro: a equidade e a universalidade. Já o seu Secretario de Atenção Primária à Saúde, Erno Harzheim, falando a um público restrito – os médicos de família – foi bem mais direto: “Estamos aqui para implementar um sistema de saúde liberal. O SUS não tem que ser para todos, mas apenas para aqueles que não conseguem proteger a si próprios. Quem quiser discutir universalidade volte para o século 20”.

Um pouco antes, no governo Temer, o então Ministro da Saúde, Ricardo Barros, engenheiro civil e membro do Centrão, antes de se tornar ministro (com Temer), não dominava a gramática da área – e, por isso, articulava o projeto de privatização do SUS de uma forma mais grosseira.  Defendia a criação de planos de saúde “populares” sob o argumento de que mais participação do setor privado reduziria custos. Queria um SUS menor.

O que parece é que mesmo sem que por imposição da lei, a incapacidade de atender de forma universal como preconizado na sua concepção o SUS, cada vez mais, se vê substituído por essas iniciativas empreendedoras voltadas para atenção básica. O futuro dirá se isso foi bom ou ruim.

LEIA TAMBÉM

AG – PILOTO – HOME E SIDEBAR – 300×250

LEIA TAMBÉM