Bioplástico a partir do caroço de Tucumã é desenvolvido por Fabricianense

Legenda: Professor Genilson Santana, fabricianense que desenvolveu um bioplástico por meio de pesquisa com produtos naturais da floresta amazônica.

Startup de tecnologia do Amazonas desenvolveu plástico orgânico aplicação para copos e pedais de bicicletas

“Essa gente que você não vê faz do Vale do Aço um celeiro de talentos para o Brasil, que você não vê”. Essa frase poderia ser alcunhada para uma TV de nossa região, baseada no slogan da Rede Globo, em uma das suas campanhas de fim de ano.

E foi na longínqua Manaus, no estado do Amazonas, que o professor Genilson Santana, doutor em Físico-Química pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, que encontrou berço para seguir sua carreira acadêmica. Recebeu o convite de um amigo (que já havia estava em Manaus) para ser professor visitante na Universidade Federal do Amazonas, UFAM, onde chegou a professor titular e está como Diretor de Inovação Tecnológica. “Foi como diretor de Inovação Tecnológica da UFAM que tive a oportunidade de me aprofundar no universo das startups. Foi nesse contexto que, junto com um aluno de doutorado com experiência industrial, percebi o potencial de uma invenção: um bioplástico produzido a partir da mistura de resíduos do caroço de tucumã, um fruto nativo do Amazonas”, explica o pesquisador.

Startup

Para o professor Genilson Santana o material poderia substituir o plástico derivado do petróleo. Após a conclusão do doutorado do aluno, fundaram a startup “Fipo Biopellet”. Em 2023, a empresa recebeu um investimento de R$ 1,3 milhão para transformar a invenção em produtos industriais. O aporte financeiro veio da Oxibike, que financiou o desenvolvimento de pedais de bicicleta feitos com o bioplástico.

O processo para transformar o bioplástico em pedais durou 18 meses. O sucesso da iniciativa permitiu expandir a produção para outras peças, incluindo componentes para motos, barcos e até mesmo prendedores de roupa. Todo esse avanço foi possível graças ao desenvolvimento de um grânulo de bioplástico capaz de ser moldado em qualquer formato, abrindo um leque de possibilidades para a indústria.

Após nove anos de pesquisa, a startup, que desenvolveu um bioplástico a partir de resíduos de frutas amazônicas, alcançou o nível TRL 9, o que significa que o produto está totalmente pronto para o mercado. Já com a validação final, a startup passou a focar na comercialização de copos reutilizáveis. O produto, que agrega diversas cores, é destinado a setores como turismo, hotéis, eventos corporativos e competições esportivas.

Investimento

Com investimento em torno de 2 milhões de reais os grânulos, feitos a partir de caroços de frutos amazônicos, passaram a ser aplicados em qualquer produto que possua o polipropileno como base. “Já estamos comercializando, aqui em Manaus, copos reutilizáveis, que vem sendo vendidos para diversos eventos cujo mote é a sustentabilidade”, observa o professor.

Em termos de produção industrial, a empresa está pronta para atender a demanda do mercado. “Nossos grânulos já foram testados e aprovados para a fabricação de pedais de bicicleta, o que nos permite iniciar a produção em grande escala assim que fecharmos a parceria com uma indústria de duas rodas” observa Santana.

Além dos pedais

A capacidade de produção vai além dos pedais. Foram desenvolvidos diversos protótipos de sucesso, como peças para painéis de motos, suportes para transporte de bicicletas, prendedores de roupa e componentes para embarcações. “Isso demonstra a versatilidade do nosso material e nossa capacidade de adaptação para atender a uma variedade ainda maior de setores industriais” proclama o pesquisador.

Sustentabilidade

Para o desenvolvimento do produto foi utilizada matérias-primas da própria floresta, em parceria com as comunidades que vivem nela, para criar uma solução genuinamente inovadora.

Nesse processo, a participação dos trabalhadores ribeirinhos da Comunidade Santo Antônio foi estratégica. Conhecida por seus esforços na preservação de quelônios, a comunidade agora fornece resíduos do caroço de frutos como açaí, tucumã e cupuaçu, resultantes da produção de polpa. “A compra desses resíduos não só fornece a matéria-prima, mas também ajuda a financiar o trabalho e a autonomia da comunidade. Essa iniciativa demonstra como a tecnologia e a pesquisa podem caminhar lado a lado com a sustentabilidade e o desenvolvimento social, gerando um ciclo virtuoso de inovação e preservação”, justifica o professor.

Sobre o professor Genilson Santana

Ex-morador do bairro Amaro Lanari, fez ensino fundamental nas escolas públicas do bairro, o curso técnico em Química no antigo Colégio Técnico Coronel Fabriciano, CTCF, atual Colégio Padre De Man. Atualmente é Coordenador de Pós-graduação, Chefe do Departamento de Química e Coordenador de Grupo de Pesquisa. Sua trajetória acadêmica é marcada por mais de 100 artigos publicados, mais de 50 alunos de mestrado e 20 de doutorado e pós-doutorado orientados.

 

 

LEIA TAMBÉM

LEIA TAMBÉM