Apesar de eleger como vilão o aumento das importações de aço, mesmo após as medidas restritivas impostas pelo governo brasileiro, os indicadores da siderúrgica refletem a disparidade entre o Ebitda e o resultado líquido, fruto do impacto dos juros, impostos, depreciação que compõe, também, o “Custo Brasil”.
Ainda não chegou o momento de se falar do impacto do tarifaço na Usiminas porque outros incêndios estão ainda por debelar. Ao divulgar os resultados do 2º trimestre de 2025 na sexta (25), os impactos da crescente importação de aços, foram eleitos como a principal causa de desempenho menor dos seus indicadores financeiros e de performance.
Mas, além disso, é importante observar que a empresa encerrou o período com lucro líquido de R$ 128 milhões, um resultado que representa queda de 62% em relação ao primeiro trimestre (1T25) mas diante de um Ebitda Ajustado Consolidado que somou R$ 408 milhões, quase 3 vezes mais.
Também é importante nos lembrar que o indicador EBITDA ajustado é uma métrica financeira que calcula o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, mas com ajustes para remover itens não recorrentes ou extraordinários que possam distorcer a análise do desempenho operacional da empresa (esses ajustes visam oferecer uma visão mais clara e comparável da lucratividade da empresa em suas operações principais).
Ou seja, boa parte do lucro operacional da empresa é “mordida” por impostos que vão do IPI ao IPTU passando pelo ICMS e IOF. Acrescenta-se a alta taxas de juros praticada no Brasil e os encargos financeiros de financiamentos tanto de Capex quanto de Opex rotineiramente empregados na estrutura de investimentos de empresas do porte da siderúrgica.
A questão é que já nos acostumamos com esses elementos do “Custo Brasil” que apontamos somente nossos canhões para o inimigo da vez: o aço chinês.
Contudo, em temos de comparação, a queda foi de 44% frente ao 1T25 e 65% superior ao 2T24. A Margem Ebitda Ajustada foi de 6,2%, ante 10,7% no trimestre anterior e 3,9% no mesmo período do ano passado. Já o volume de vendas de aço caiu 1%, com retração de 3% no mercado interno.
Deteriorando
O presidente da Usiminas, Marcelo Chara, afirmou que o resultado da companhia é reflexo das condições concorrenciais do mercado de aços planos no Brasil. “O segmento vem se deteriorando de forma acelerada no segundo trimestre de 2025. Para sua sustentabilidade, é imperativo que as investigações antidumping sobre produtos siderúrgicos, que já demonstraram a prática de dumping e o seu dano à indústria, sejam concluídas com celeridade e que medidas concretas sejam implementadas para sanar essa prática desleal e danosa à indústria e toda cadeia de valor”, afirmou.
De acordo com Instituto Aço Brasil, no segundo trimestre deste ano foi registrado um volume recorde de importação de aço, de 1,2 milhão de toneladas. Nos primeiros seis meses, as importações atingiram 2,3 milhões de toneladas, um aumento de 50% em relação ao mesmo período de 2024, e representaram 28% do consumo aparente de aço plano no Brasil. “Todo esse contexto demonstra que o sistema de cotas-tarifa não alcançou o resultado esperado, mesmo com os ajustes implantados em junho”, reforçou Chara.
Saúde financeira
Ainda assim, no segundo trimestre de 2025, a Usiminas apresentou uma melhora em sua estrutura de capital, com a alavancagem financeira recuando de 0,71x para 0,50x, refletindo uma gestão mais eficiente da dívida em relação à geração de caixa operacional.
Essa redução foi impulsionada pela queda de 24% na dívida líquida, que passou de R$ 1,37 bilhão para R$ 1,05 bilhão no período. Além disso, o fluxo de caixa livre atingiu R$ 281 milhões, revertendo o cenário do trimestre anterior, quando havia sido registrada saída de caixa.
“Apesar de um contexto extremamente desafiador, a Usiminas é uma empresa com capacidade técnica e referência em qualidade, com uma saúde financeira sólida”, ressaltou Chara.
Pressão, pero no mucho!
As medidas restritivas às importações de aço implementadas pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), colegiado do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), renovadas no fim de maio por mais 12 meses mantendo a alíquota de 25% sobre o aço importado da China e elevando de 19 para 23 o número de produtos alcançados pela medida, não se demonstraram suficientes para inibir ou desacelerar o crescimento do volume de importações.
O setor esperava medidas mais fortes. A renovação da tarifa de importação era um pleito do setor de aço, que pedia ao governo medidas adicionais ainda mais duras, algo como o fim do sistema de cotas de importação (sistema que determinados volumes de importação, podem entrar no país pelas tarifas originais, que variam entre 9% e 16%). Executivos do setor têm afirmado que o aço importado, historicamente, representava 11% da demanda interna. Essa fatia mais que dobrou e já chega 25%.
Há de se entender a complexidade para a adoção de medidas de maior alcance contra o aço chinês. A China é o maior parceiro comercial e maior importador dos produtos do agronegócio brasileiro. Uma reciprocidade vinda por parte de Pequim poderia gerar impacto ainda maior na balança comercial brasileira, mobilizaria esse segmento que, por sua vez, possui tanto no âmbito federal quanto nos estados, bancadas parlamentares com força de impactar a governabilidade do país. A política pesa e a comparação da mobilização e poder de barganha do agro ao siderúrgico, é abissal.
Medidas de contenção
O baixo desempenho não necessariamente no volume de vendas, mas também nos preços negociados dos produtos da siderúrgica sinalizam a necessidade de medidas de contenção que podem ir da desativação de equipamentos ou áreas inteiras assim como a otimização da mão de obra, gerando atmosfera para desligamento de aposentados ainda na ativa, empregados próximos a adquirir a aposentadoria e remanejamento de mão de obra para outros setores, outras atividades ou até unidades de negócio.
Trata-se de possibilidades a partir do histórico de momentos semelhantes adotados pela empresa que, por sua vez, somente leva à última camada (trabalhadores no auge da sua produtividade ao desligamento) em situações mais drásticas. O Vale do Aço, em especial o cinturão de fornecedores que atende as diversas áreas do Centro Industrial de Ipatinga está apreensivo, sobretudo, que ainda se somará a esse cenário o “Tarifaço” do presidente Donald Trump, em 1º de agosto.



