Redes tradicionais do Vale do Aço resistem à chegada de grandes “players”.
Nos últimos anos, os investimentos em novos negócios no Vale do Aço tem, basicamente, restringido ao varejo e atacado de alimentos e produtos de mercearia. Novas indústrias é algo que a região não experimenta, a exceção de pequenas caldeirarias e usinagens muito decorrentes de dissidência de outras empresas maiores.
Nesse contexto redes, cujas bases administrativas tem sua origem em outras regiões do estado e até do país, vem enxergando o Vale do Aço como terreno de oportunidades e se estabelecendo de forma agressiva. Exemplos disso é o Mineirão Atacarejo e o Epa da DMA Distribuidora que passou a ser uma Sociedade Anônima a partir do início dos anos 2000.Outro exemplo é o Grupo Coelho Diniz com origem em Governador Valadares que aportou de uma vez só em Coronel Fabriciano e Ipatinga (abriu 03 lojas em Ipatinga nos últimos 02 anos e está construindo uma em Timóteo).
Heróis da Resistência
A vinda dos grandes grupos impõe aos supermercadistas “made in Vale do Aço” criatividade e capacidade para se reinventarem para manter o posicionamento de mercado e até elevar faturamento.
Exemplo disso é o Garcia supermercados. A rede supermercadista com origem no Bairro Canaã tem à frente o seu fundador José Garcia sendo co-administrado pela sua filha, Elizandra Garcia, que avança pelo mundo digital e já oferece um “menu” de serviços de olho no comportamento da nova geração de consumidores.
Fundado em 1977, a rede conta com lojas também no Bom Jardim, Veneza e Cidade Nova (Santana do Paraíso), e, em breve, uma loja maior no Cidade Nova, implementou seu programa de Cashbacks com o “Clube Garcia”, uma plataforma em que os clientes se cadastram e são beneficiados por um programa de fidelidade que concede descontos especiais em produtos específicos, promoções exclusivas, sorteios e cashbacks em futuras compras. “Já possuímos milhares de adesões, o que provoca investimento ainda maior na fidelização dos nossos clientes”, explica a empresária.
Hoje, com mais de 600 colaboradores, a rede comemora o número de transações realizadas por meio do e-commerce implantado há pouco tempo que representa já algo em torno de 5% do total das vendas.
Marketplace
Além de oferecer a possibilidade de os clientes adquirirem produtos por meio do seu site e entrega domiciliar, a empresa passou a utilizá-lo, no início de 2022, como marketplace abrigando produtos não comercializados nas lojas físicas para pequenas indústrias ou comércios de natureza não concorrencial ao da rede. “Observamos que o número de visitas e operações já estavam em patamar atraente para a abrir espaço para outros produtos que não tinham a mesma exposição na internet como nós. Hoje, os clientes poderão encontrar produtos que não estejam presentes nas lojas físicas e, com isso, poderão adquiri-los a preços mais competitivos”, justifica Garcia.
Inflação de dois dígitos, Guerra da Rússia e Ucrânia (queda no consumo?)
Em entrevista à “Negócios Já!”, Lizandra Garcia foi questionada sobre o impacto no consumo dos clientes em função da inflação (em abril chegando a 12,13%). “O que houve foi uma substituição de produtos mais caros por outros mais em conta. É o que aconteceu com a carne bovina sendo substituída por suína e de frango. Contudo, o consumo em nossas lojas permaneceu estável”, observa a executiva. A executiva ainda ponderou o esforço de sua equipe de compras na negociação com fornecedores e a busca de alternativas de marcas que pudessem representar economia na ponta.
Já a Guerra entre a Rússia e a Ucrânia impactou de forma mais restrita produtos como farinha de Trigo, um produto de exportação da ex-república soviética que historicamente o Brasil importa para atender a sua demanda. Da mesma forma, os fertilizantes com a dependência da importação com a Rússia o que fez com o que preço do óleo de soja fosse fortemente afetado semanas atrás. “Chegamos a ter que limitar o número a ser comprado por cliente para atendermos o maior número possível com um preço que conseguimos negociar”, explica Garcia.
Preços inferiores
Outro que mantém bom desempenho, apesar das dificuldades impostas pela concorrência de gigantes, são os supermercados Peixoto, que possui duas lojas em Coronel Fabriciano. O empresário Márcio Rezende Peixoto(49) tem procurado absorver bem os primeiros meses do novo entrante, sobretudo, das grandes redes para, depois, observar a recuperação do movimento nas lojas. “Quando inaugura a nova loja da grande rede, somos impactados e o movimento nas lojas diminui. Passado o furor inicial, o consumidor compara os preços fora do promocional e observa que ofertamos produtos a preços inferiores”, explica o empresário.
Para Peixoto, estratégias para aumentar a competividade com as grandes redes existem e foram experimentadas no passado. Contudo, iniciativas como a negociação em bloco foram desaparecendo por fatores que, na sua visão, poderiam ser solucionados por meio de regras básicas de funcionamento assim como maior alinhamento dos membros. “A formação de redes de negociação de compras de produtos e serviços é ainda uma arma importante para o varejista de menor porte. Há de ser reavaliada no futuro uma nova inciativa nesse sentido”, observa o empresário.
A luta dos pequenos contra os grandes poderia ser ainda mais desafiadora esse ano não fosse o surpreendente adiamento da inauguração do Assai Atacadista previsto incialmente para julho (foi necessário uma reavaliação do solo que apresentava movimentações não previstas). A previsão, até o parecer dos especialistas em solo, é para 2023. Até lá, espera-se um novo rearranjo dos varejistas de pequeno e médio porte para melhor enfrentamento de mercado.