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Sob nova direção! O que esperar da gestão Alberto Ono na Usiminas

Quando em março de 2018, ouvi de forma entusiasmada, o anuncio do ex-presidente da Ternium, Paolo Basseti, que acabara de fechar o acordo de acionistas que deu fim a maior contenda de empresas S/A da história, não poderia esperar que a alternância de indicações dos cargos estatutários se daria, em 2022, em um ambiente de extrema confiança no futuro, fundamentado em resultados extraordinários apresentados pela siderúrgica em 2021 (a forte geração de caixa fez com que a empresa terminasse o último trimestre de 2022 com uma dívida líquida negativa de R$ 220 milhões. Um caixa, que dava para pagar as dívidas e ainda sobrar cerca de R$ 200 milhões).

O executivo Sérgio Leite que, desde 2016, esta a frente da empresa (foi reconduzido em 2018) e  permanecerá até início de 2022 como diretor-presidente, representa uma indicação de um dos membros majoritários do bloco de controle, o grupo Ternium-Tecchint. O “Chairman”, presidente do conselho de administração, por sua vez, ficou a cargo da indicação do grupo Nippon Steel, tendo o executivo Ruy Hirschheimer com a missão de suportar os destinos da siderúrgica a partir da conjunção dos interesses ali representados.

O inverso

Sérgio Leite assumiu a presidencia da Usiminas no pior momento de t oda a sua história. Deixa em Maio , como no jargão fotibilísitco, “no a uge”.

2022 chegou e muitos apostaram que a exitosa gestão do CEO Sérgio Leite à frente da siderúrgica o levaria a recondução para mais 02 ou 04 anos de mandato. Além de salvar a empresa da falência, Leite conseguiu unir acionistas, empregados, fornecedores e toda a sociedade em torno da recuperação da empresa mesmo com decisões que passaram por demissões, eliminação de setores, venda de subsidiárias e até o total fechamento da Usiminas Mecânica, um marco do “milagre econômico”.

Fui na contramão do otimismo provinciano e entendi que o acordo de acionistas que previa a troca das indicações (o diretor-presidente seria indicado pela Nippon Steel e o presidente do conselho de administração indicado pela Ternium-Tecchint) cumpriria seu roteiro, o que foi confirmado em fato relevante enviado ao mercado na madrugada da última terça-feira (29). A Nippon Steel indicou o engenheiro metalúrgico e então vice-presidente de finanças e relações com investidores, Alberto Ono para CEO da empresa e o então presidente, Sérgio Leite, para “Chairman”.

Por um triz 

O momento atual contrasta com o que foi vivido há exatos 06 anos pela companhia. Em 2016, a situação era de extrema fragilidade. Com dificuldades para adquirir insumos básicos para o processo produtivo, a injeção de 01 bilhão por parte dos majoritários era decidida em uma assembleia tensa e incerta. As ações da Usiminas que, em 2011, já estiveram cotadas na casa dos R$ 20, encerraram o pregão valendo centavos em janeiro daquele ano. O nível de endividamento estava nas alturas e não havia como dourar a pílula — a Usiminas estava insolvente.

Uma série interminável de encontros foram realizados para tentar encontrar uma solução para a dívida da Usiminas antes da divulgação do balanço, marcada o mês seguinte. A unidade de Cubatão, responsável por 40% da produção a época, já havia sido fechada em outubro de 2020.

Contudo, em 11 de março daquele ano, os acionistas por sete votos a três, aceitaram fazer o aporte de R$ 1 bilhão. Por um triz, a empresa não entrou com o pedido de recuperação judicial.

Quem é Alberto Ono

O novo presidente, Alberto Ono, é engenheiro metalúrgico pela Universidade de São Paulo (USP), instituição onde também realizou mestrado. É também PhD em Metalurgia pela Universidade de Tóquio.

Ono teve passagens em empresas como o grupo Votorantin (2007-2009) em que trabalhou com a análise e acompanhamento do desempenho operacional e econômico das unidades industriais de siderurgia no Brasil e no exterior sendo, também, responsável pela coordenação da fase inicial de estudos técnicos e econômico-financeiros de projeto. De 2001 a 2007 atuou na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, CBMM, onde foi responsável pela implantação em escala piloto e industrial de novos produtos para aplicação especiais.

Na Usiminas, iniciou carreira em 2009, como diretor de Planejamento e Controle e, em 2018, foi conduzido a vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores com a ida de Ronald Seckelman, um dos homens de confiança de Leite, para o conselho de administração. Em 2019, o executivo foi avalista do programa de investimentos que teve como ponto de partida a reforma do alto-forno 3, com aportes de R$ 2,1 bilhões.

Vínculo

A primeira experiência da Usiminas com um diretor-presidente fora da base industrial foi com o Engenheiro Marco Antônio Castello Branco. A época, o mercado leu a sua indicação como uma ruptura com modelo paternalista do então presidente Rinaldo Campos Soares.

Sob o aspecto simbiose com os stakeholders, a gestão foi desastrosa. Ali começava um período nebuloso que marcaria o distanciamento entre empresa e comunidade. O apagar de incêndios com o seu sucessor, Wilson Brumer, avalista da indicação de Castelo Branco quando presidia o conselho de administração, aprofundou esse distanciamento.

A Usiminas, já cambaleante em suas finanças, teve Julio Eguren, indicado pelo novo dono (Ternium-Tecchint)a diretor-presidente aprofundou ainda mais esse distanciamento, abrindo em sequência, a crise que deixou em lados opostos os acionistas majoritários do bloco de controle.

Alberto Ono vem dessa ausência de raízes com a Usina Intendente Câmara, o que não dá para cravar que repetirá modelo de atuação desses antecessores (se sua gestão irá pelo caminho do distanciamento da empresa com os seus stakeholders). As bases deixadas por Sérgio Leite impõem diálogo constante com a comunidade o que, no primeiro momento, o obrigará a preservar esses vínculos.

Outra razão para aposta de que seguirá com esse modelo é que sua indicação veio da Nippon Steel que desde o início das operações, em 1962, fomentou esse relacionamento com a comunidade.

Maio é logo ali e, com certeza, poderemos comprovar o estilo e os rumos que o executivo pretende dar a Usiminas. As condições que ele vai encontrar são bem diferentes de 2016.

 

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