No início dos anos 1970, a descoberta que o petróleo era um recurso natural não renovável fez com que o preço sofresse muitas variações a partir de tal década, marcando efetivamente cinco momentos de crise do produto. Estima-se que em 70 anos o produto se esgote. Tal descoberta fez o preço do produto se alterar, fazendo-o triplicar no final de 1977.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP, já vinha diminuindo a oferta de petróleo desde sua criação para alcançar os objetivos de desfrutar dos maiores lucros possíveis e, por causa disso, uma série de conflitos ocorreram com os países árabes integrantes da OPEP. Os conflitos foram: a Guerra dos Seis Dias, em 1967; a Guerra do Yom Kippur, em 1973; a Revolução Islâmica no Irã, em 1979 e a Guerra Irã-Iraque, a partir de 1980.
Em apenas cinco meses, dentre entre outubro de 1973 e março de 1974, o preço do petróleo aumentou 400%, causando reflexos poderosos nos Estados Unidos e na Europa e desestabilizando a economia por todo o mundo. E isso mudou a forma como consumimos o que, em função disso, passou a ser denominado “Ouro Negro”.
O petróleo sempre foi utilizado como arma de guerra durante conflitos internacionais assim como retaliações de nações produtoras e exportadoras contra nações importadoras. A guerra da Rússia com a Ucrânia é mais um momento da história da humanidade que o combustível fóssil se impõe como ativo para submeter o mundo a vontade seja de qual nação que, no memento, observe uma oportunidade para avançar geopoliticamente sua influência ou frear quem venha a ter o mesmo objetivo.
Diante disso, o Brasil que já adota desde 2017, a política de equiparação aos preços internacionais, tornando seus derivados ancorados pela flutuação diária e fortemente afetados pela variação cambial, vê seus preços alcançarem patamares não antes verificados, colocando toda a economia em cheque. O último aumento em vigor desde a última sexta-feira (11), onde o preço médio da gasolina para as distribuidoras subiu 18,8% e 24,9% no diesel, impôs um desgaste entre o governo e o atual presidente da Petrobrás, o general Luna e Silva, indicado por Bolsonaro para substituir um desgastado Carlos Castelo Branco, demitido pelas mesmas razões que o presidente da República deseja demitir o general 4 estrelas.
História
O Brasil, por meio da zona franca de Manaus, já abria caminho para a busca de alternativas que pudessem mitigar a crise do Petróleo a época e isso se fez pela atração de montadoras multinacionais por meio de incentivos fiscais. A Yamaha, por exemplo, chegou ao Brasil em 1970, como a primeira fabricante de motocicletas do país. Já em novembro de 1976, deu-se o início das operações da primeira linha de montagem da Honda no Brasil.
Motos x Carros
Com consumo muito inferior aos automóveis, uma moto pode fazer de 25 a 45 quilômetros por litro de combustível. Ou seja, com um tanque de 16 L completo, uma CG 150, modelo Honda muito popular nos anos 1980, pode rodar de 400 a até impressionantes 720 km.
Em todo o país, foram contabilizadas 26,4 milhões de motos, uma frota 3,44% maior do que a registrada em abril em abril de 2021. A proporção é de uma moto para 7,86 habitantes. A região que lidera essa proporção é o Nordeste, onde a frota de motos chega a 7,49 milhões contra 6,67 milhões de carro. E isso deve aumentar.
Vale do Aço
A região do Vale do Aço por muitos anos, sobretudo, na década de 90 e anos 2000, foi campeã de vendas entre as revendedoras da marca Honda. Evaldo Avelino, gerente de uma concessionara Honda em Ipatinga e que há quase 2 décadas trabalha no setor, orgulha-se de recordes batidos em nível nacional. “Fomos, com uma antiga revenda Honda, premiados diversas vezes com números invejáveis em relação a revendas de outras regiões do país”, comemora Avelino.
Evaldo(agora na MG Motos-Honda) explica que desde 2020, mesmo com a pandemia, a procura por motocicletas seja para pagamento a vista, financiamento ou consórcio, teve aumentos crescentes nas vendas. Isso pode ser exemplificado nos números de 2020 (1444 unidades) e 2021 (1612 unidades). Ainda no ano passado, as intempéries persistiram e o quadro não mudou. “Tivemos problemas com a cadeia de abastecimento em função da pandemia. Vários componentes tiveram dificuldades, seja pela descontinuidade temporária da fabricação, seja pela importação desses. Contudo, mesmo com a espera pela entrega do produto, a procura manteve-se elevada por parte dos consumidores. Temos, nos primeiros meses de 2022, observado maior crescimento na procura por modelos de menor cilindragem (110 a 160 cilindradas). A expectativa é de um crescimento de 20% nas vendas”, observa o executivo;
Alternativas surpreendentes
Não é exclusividade das motos ser a única alternativa que o consumidor brasileiro tem para o enfrentamento da explosão dos preços dos combustíveis. O transporte coletivo passa a ser considerado uma saída. Vale lembrar que um hábito próprio dos anos 80 pode retornar (ir trabalhar e estudar de ônibus enquanto o carro fica na garagem, reservado para os fins de semana, festas ou emergências de saúde). A atual geração poderá ter dificuldades para rever seus conceitos e mudar hábitos que pareciam distantes para os próprios e que, inevitavelmente, poderão ser revisitados.
Outra alternativa era o compartilhamento e ou rodízio de veículos utilizada para momentos de inflação alta e combustíveis caros. Para adequação as despesas domésticas, a cada semana, um colega de trabalho do mesmo bairro (e da mesma empresa) conduzia outros três para o trabalho, de forma a todos manterem o conforto de desfrutar de uma “hora in itinere” longe dos coletivos quentes, lotados e sem ar-condicionado. Esse hábito está no radar.
Veículos alternativos
Se o brasileiro é criativo nos momentos de bonança o que não dizer nas crises. Antônio Luiz Mendonça (55), designer e videomaker, adotou para o seu dia a dia o Patinete elétrico. Com um roteiro diário de 5 km entre a sua casa no Amaro Lanari ao local de trabalho diariamente, adotou solução inusitada que permite um deslocamento seguro (entre o bairro Amaro Lanari e o bairro Horto, em Ipatinga, há uma pista de ciclistas) e rápido. Em 10 minutos já está em sua sala que, pela característica compacta do veículo, não requer grandes espaços para estacionamento (ele fica na sua própria sala de trabalho). “No início, todos os colegas não acreditaram que teria coragem de adotar esse veículo. Comprei pela internet, com assistência técnica com revisões periódicas garantidas pelo fabricante e hoje faço, além do trabalho, roteiros diversos como ir ao supermercado, clube e visitar amigos incorporam a minha rotina em cima do patinete”, observa Mendonça.
O patinete Atrio street es323 utilizado pelo designer gráfico possui autonomia de 32km e velocidade máxima em linha reta de 38km, equipamentos de segurança como capacete e cotoveleiras são importantes para um trajeto urbano com possibilidades de percalços. Seu preço aproxima-se dos 4 mil reais, dependendo do e-commerce ou loja física.
Bicicletas elétricas
Não é novidade a adoção de bicicletas elétricas no transito do vale do Aço. Agora, elas estão saindo das ruas dos bairros para andar em vias de ligação e rodovias.
Em Ipatinga, existe uma loja especializada (e na internet opções mil). Em suas redes sociais lança o apelo sobre os efeitos do calor de nossa região e o custo de apenas 20 centavos em 40 km.
Sinônimo de bicicleta motorizada no Brasil, a marca Mobylette representava o sonho de consumo da juventude brasileira nas décadas de 1970 e 1980. E aproveitando o momento de busca do consumidor de soluções logísticas mais viáveis para o dia a dia, a Caloi anunciou semana passada, o retorno da Mobylette, agora como uma bicicleta elétrica. Motor elétrico, velocidade máxima de 25 km/h e autonomia de 30 km.
Com o fim da guerra da Rússia com a Ucrânia passando a linha das três semanas e sem dar sinais de que cessará no curto prazo, alguém se habilita a experimentar alternativas mais exóticas para economizar combustível? Quem se habilita?