O período entre janeiro e junho de 2021 no Estado do Rio foi o primeiro semestre da história a apresentar mais óbitos do que nascimentos desde o início da série histórica do Portal da Transparência do Registro Civil, em 2003.
Os cartórios do estado registraram 99.104 óbitos até o final do mês de junho – o maior índice de mortes da história em um primeiro semestre. O número supera em 54,4% a média histórica de 64,1 mil óbitos no Rio. Dados do portal mostram ainda que 28.717 (29%) mortes no período foram causadas pela Covid-19.
Com relação aos nascimentos, o Rio registrou o menor número de nascidos em um primeiro semestre desde o início da série histórica. Foram registrados 96.416 nascimentos, número 13,6% menor que a média de nascidos no estado desde 2003.
Da diferença de 99,1 mil para 64,1 mil (35 mil) – entre os números de mortes do primeiro semestre de 2021 e a média histórica do período – a maior parte é de óbitos por Covid-19 (82%), segundo o Portal.
Para o médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz Victor Grabois, o recorde tem relação direta com a situação da pandemia no estado.
“Esse excesso de óbitos não tem outra justificativa a não ser as mortes causadas pela Covid-19. O quadro tende a se amenizar com parcelas cada vez maiores da população estando vacinada com as duas doses, talvez mais para a segunda metade do segundo semestre. No entanto, a existência de variantes, como a delta, pode segurar essa queda”, afirma o pesquisador.
Com isso, o crescimento vegetativo, que é o cálculo entre o número de mortes e de nascimentos, foi negativo em um semestre completo pela primeira vez na história.
A diferença entre nascimentos e óbitos, que tinha média de 47,4 mil nascimentos a mais, ficou negativa, com 2,6 mil óbitos a mais. O número representa uma redução de 105,7% em relação à média histórica. Em relação aos número de 2020, a queda foi de 119%, e na comparação com 2019, de 107,2%.
Segundo o professor de geografia Ruy Moreira, do departamento de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), esta situação tem impacto nas camadas etárias da população.
“Um efeito já previsível desse cenário é uma mudança em certas camadas da pirâmide etária, principalmente de idades mais avançadas, que foram mais impactadas pelas mortes por Covid. Então na faixa dos idosos, espera-se uma retração, que tende a gerar uma queda de pelo menos dois anos na média de idade da população brasileira. Mas ainda não temos cálculos precisos dos impactos da pandemia”, afirma o professor.
Ainda de acordo com ele, a diminuição da camada mais idosa da população tem impactos sociais e econômicos que ainda não foram considerados.
“Temos de 30 a 40% dos municípios do país cuja população depende do salário dos aposentados, mas a maioria das políticas tem foco na população adulta, ativa e empregada. Não existem pesquisas que avaliam os impactos do grande número de mortes da população idosa na situação econômica e social das cidades”, diz ele.
A base de dados do Portal da Transparência do Registro Civil é abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e óbitos praticados nos cartórios de registro civil de todo o país, e administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).