Diante de um possível aumento de casos por causa da variante Delta, como já verificado em outros países, cinco secretarias estaduais de Saúde decidiram diminuir o intervalo entre a primeira e segunda dose da vacina Oxford AstraZeneca contra a COVID-19, a fim de completar o esquema vacinal em um menor espaço de tempo. A medida visa combater a disseminação da nova cepa, identificada em seis unidade da Federação.
Segundo estudos, uma maior proteção contra a mutação primeiramente identificada na Índia só é adquirida com as duas doses do imunizante. No entanto, a ação de encurtar o prazo entre as doses vai contra a orientação do Ministério da Saúde, que recomenda 12 semanas (três meses) de intervalo entre as aplicações do imunizante produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Ao menos cinco estados adotaram o encurtamento do prazo mesmo sem o aval do governo federal: Espírito Santo, Maranhão, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Desses, apenas o Maranhão confirmou casos da Delta. Em Santa Catarina, o intervalo entre as doses da AstraZeneca passou para 10 semanas. De acordo com a Secretaria de Saúde do estado, a medida tem como objetivo “organizar o processo de vacinação” para evitar atrasos nas segundas doses.
Já em Pernambuco, o governo anunciou que os municípios estão autorizados a reduzir a espera entre as aplicações. “Ficou definido que os municípios podem aplicar a vacina AstraZeneca entre 60 e 90 dias após a primeira dose. O fabricante diz que esse intervalo pode ser adotado. Essa decisão foi balizada pelo nosso comitê técnico científico estadual”, destacou o secretário de Saúde, André Longo.
O estado de São Paulo, que também já tem casos da Delta confirmados em seu território e chegou a cogitar a possibilidade de diminuir os intervalos das vacinas da AstraZeneca e da Pfizer, desistiu da ideia. “Todo calendário vacinal segue a diretriz do Programa Nacional de Imunização (PNI), no que tange, inclusive, ao intervalo das doses. Dessa maneira, entendemos que São Paulo segue a normativa do ministério”, informou o secretário de Saúde Jean Gorinchteyn.
O Ministério da Saúde destacou que está “atento à possibilidade de alterações no intervalo recomendado entre doses das vacinas da COVID-19 em uso no Brasil”, mas mantém o intervalo de 12 semanas, já sugerido pela pasta anteriormente, entre as doses da AstraZeneca e da Pfizer. Durante a semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reforçou que essas decisões são tomadas pela câmara técnica de especialistas que apoia o PNI e, também, em conjunto com os estados e municípios.
Queiroga demonstrou insatisfação com a adoção de medidas diferentes das recomendadas pela pasta. “Aproveito a oportunidade para dizer que estados e municípios devem seguir fielmente o que foi decidido na (gestão) tripartite”, cobrou.
Divergências
Ainda que estados considerem diminuir o prazo entre as doses para completar o esquema vacinal de mais pessoas em menos tempo, especialistas e autoridades divergem quanto ao que deveria ser adotado. Em São Paulo, antes da desistência da ideia, foi possível notar que as autoridades envolvidas no debate da medida não chegaram a consenso.
Enquanto o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que a antecipação da segunda dose de alguns imunizantes deveria ser considerada como uma maneira de resposta à transmissão da Delta, o coordenador executivo do centro de contingência da covid-19 de São Paulo, João Gabbardo, sugeriu que seria mais interessante imunizar mais pessoas com a primeira aplicação.
“Eu gostaria de ponderar que, talvez, seja muito mais interessante termos mais gente vacinada com a primeira dose, do que anteciparmos a segunda. Não existe mágica: se a gente antecipar de 90 para 60 dias para algumas pessoas que já tomaram a primeira dose, isso vai significar atrasar a primeira dose de uma determinada parte da população. Tem que ser ponderado também esse risco”, explicou Gabbardo.
*Com informações do Estado de Minas