O Sindiute (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação), subsede de Ipatinga, denunciou nesta terça-feira durante entrevista coletiva de imprensa o Plano Municipal de Retorno às Aulas Semi-presenciais na rede municipal de Ipatinga, que considera um plágio do Plano de Retorno utilizado pelo governo do Espírito Santo. A diretora do SindUTE, Isaura Azevedo Carvalho, destacou que o município “está atravessando um momento muito particular, em que estamos vendo e acompanhando a situação crítica da pandemia, com novos casos de contaminação, ontem foram registrados 56 novos casos, com óbitos diários e altas taxas de ocupação dos leitos, com 69% dos leitos de UTI Covid-19 SUS ocupados. Mesmo assim, assistimos à retirada do Programa Minas Consciente pela atual administração ao mesmo tempo que se propõe a retomada presencial das aulas no município”, salientou. Ainda segundo ela, “o retorno presencial não se justifica diante do atual momento epidemiológico, infinitamente pior que o que determinou a suspensão das aulas presenciais e o início das atividades remotas”. A Prefeitura enviou nota esclarecendo a polêmica envolvendo a redação do Plano. (Leia a materia)
Isaura destacou que o SindUTE aguarda entre hoje (27) e amanhã (28), o agendamento de reunião com a Secretaria de Educação, solicitada desde o dia 7 de janeiro, para discutir publicação do Protocolo de Segurança construído com pela Comissão Interinstitucional para o retorno às aulas e outras questões específicas da educação. “Vemos com muita preocupação as medidas unilaterais que estão sendo tomadas pela SME, que sequer dialogou com a representação dos trabalhadores (as) em educação ou convocou a comissão interinstitucional”.
Conforme ela, “publicar um plano de retorno sem considerar indicadores importantes como numero de casos por 100 mil habitantes, taxa de ocupação de leitos, aumento da incidência da doença, óbitos, entre outros, é uma aventura. Não podemos experimentar, colocando vidas em risco. Quem determina as regras e o melhor momento para esse retorno é a ciência e não podemos negá-la”, enfatizou.
Fraude intelectual
O plágio do Plano de Retorno às Aulas Semi-presenciais foi outro ponto abordado pela dirigente sindical, que considerou a cópia uma fraude intelectual, uma vez que não respeita os protocolos construídos coletivamente em Ipatinga e tampouco tem a ver com a realidade local. “Na medida em que adotam um Plano que desconsidera o fato de estarmos na Onda Vermelha, incorre-se no erro de desconhecer a realidade, fazer um diagnóstico errado e dar o remédio errado para combater a doença”, critica.
“Ficamos perplexos – prossegue Isaura – ao perceber que o Plano Municipal para o Retorno às Aulas Semi-presenciais, anunciado como uma construção robusta, pensada especificamente para a rede municipal de Ipatinga, além de decisão unilateral da Secretaria, mesmo com solicitação oficial deste sindicato para participar das construções, não passa de uma cópia literal do Plano de Retorno da Rede Estadual do Espírito Santo”.
Segundo ela, “a fraude intelectual pode ser facilmente identificada, inclusive, com a substituição de alguns termos próprios daquela rede por outros (porém, mantendo os termos de lá em outros trechos do texto), e até mesmo menciona profissionais que não existem no nosso município, a exemplo de guias-intérpretes, cópia do organograma de retorno gradual dos estudantes, alusão a nota técnica específica do ES, utilização do termo cuidadores, específico do ES em substituição ao assistente da educação especial utilizado em Ipatinga, entre outros”.
Incoerências
“Além do plágio, que já é por si grave, detectamos incongruências com relação ao próprio Protocolo publicado junto ao decreto que permite o retorno das aulas”, diz Isaura Azevedo. “Nele são previstos intervalos de 15 dias entre as etapas e é proposto um retorno escalonado do ensino fundamental, além de deixar claro que as crianças de 0 a 3 anos não retornam no momento indicado no Plano, devendo ser discutidas estratégias especificas para o retorno dessa faixa etária posteriormente. O que vemos no Plano são todos os estudantes: 4 e 5 da educação infantil, todo o ensino fundamental, EJA, educação especial, tempo integral. Todos em um mesmo momento (menciona a alternância de 50% da turma, mas retira o tempo necessário para que o revezamento aconteça) e ainda retorna com crianças de 3 e posteriormente de 0 a 2”, sublinha.
Conforme ela, contraditória também é a fala do secretário de Educação de que as famílias poderão fazer a opção de manutenção pelas aulas remotas para seus filhos, não sendo obrigatório o envio deles para as unidades escolares. “O trecho do texto original do documento do Estado do Espírito Santo que evidencia essa opção das famílias foi omitido na edição de Ipatinga. No Plano do município, em vários momentos há menções sobre a necessidade da identificação dos alunos infrequentes, registros diários da frequência, relatórios quinzenais da freqüência”, aponta.
Desorientados
Isaura diz que é importante lembrar ainda que o “robusto Plano”, ao tratar da Educação em Tempo Integral menciona “seguem as orientações”, orientações essas que não são localizadas.
O tópico sobre transporte escolar, traz um texto novo, totalmente diferente do discutido na Comissão Interinstitucional (que envolveu diversos segmentos da sociedade e poderes públicos de Ipatinga) e que nada tem a ver com as orientações publicadas no protocolo anexo ao decreto.
“A julgar pelo documento propagado como tão bem pensado e elaborado, preocupa-nos como está a organização e o planejamento das escolas para a volta às aulas neste momento em que não há tempo para erros, uma vez que pode não ser possível voltar e corrigir. Todas as vidas importam e muito”, finaliza Isaura Azevedo.