UFV foi citada como uma das seis instituições brasileiras capazes de produzir uma vacina com tecnologia genuinamente nacional para combater a covid-19 no podcast produzido pelo Jornal Folha de São Paulo, esta semana. O podcast cita ainda os Institutos Butantã, Fiocruz, USP e as universidades federais de Minas Gerais e do Paraná. Coincidentemente, nesta mesma semana, a equipe liderada pelo professor Sergio Oliveira de Paula, do Departamento de Biologia Geral da UFV, concluiu o desenvolvimento de um VLP (vírus like particle) na sigla em inglês, uma partícula viral parecida com o vírus. Ela servirá para desenvolver uma nova vacina, para criar testes sorológicos para detecção da covid-19 e para estudos sobre o impacto do coronavírus no organismo humano.
Testes com animais
Nos próximos dias, esse candidato vacinal será enviado para os laboratórios da Fiocruz de Pernambuco, onde serão conduzidos os testes com animais de laboratórios para checar a indução de uma resposta imune protetora capaz de inibir o vírus Sars-CoV-2. O professor Sérgio explica que a VLP foi desenvolvida com tecnologias de engenharia genética e é muito semelhante ao coronavírus. “Embora não tenha o genoma viral, essa partícula possui a capacidade de induzir a resposta imune gerando anticorpos que protegerão os indivíduos de futuras infecções”. A Fiocruz da Bahia também receberá essas VLPs produzidas na UFV para conduzir estudos com o intuito de entender o desenvolvimento e evolução da doença covid-19.
Os projetos começaram a ser desenvolvidos no final de agosto de 2020, quando o Ministério da Ciência e Tecnologia abriu editais para financiamento das pesquisas envolvendo o coronavírus e são conduzidos no Laboratório de Imunovirologia Molecular da UFV. A equipe de pesquisadores também está desenvolvendo mais dois candidatos vacinais para a covid-19. Um deles aproveita a vacina da febre amarela, incluindo nela a proteína S do Sars-CoV-2. Esta tecnologia, que utiliza o vírus atenuado, é chamada de quimera vacinal e já está na fase de construção gênica. No terceiro candidato vacinal, os pesquisadores colocaram esta proteína S em um fungo que deverá produzir o imunizante. O projeto da VLP é o que está mais adiantado. Os outros dois devem levar mais seis meses para serem construídos. A próxima etapa é avaliar a eficácia das vacinas em animais de laboratórios, finalizando assim a fase pré-clínica, já financiada pelos editais citados abaixo. Se tudo der certo, as fases clínicas um, dois e três dependerão da associação com institutos ou empresas que tenham interesse nos candidatos vacinais.
Consenso mundial
Segundo o professor Sérgio, os candidatos desenvolvidos na UFV são promissores e cada tipo de vacina tem potencial para usos diferentes. Ele lembra que há um consenso mundial, reiterado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de que as estratégias eficazes de imunização precisam agregar diversas vacinas em todo o mundo. Para ele, os oito projetos de vacinas que estão em andamento no Brasil serão fundamentais para o país lidar com a pandemia do coronavírus nos próximos anos. Além de ser tecnologia nacional, desenvolvida para lidar com possíveis mutações do vírus, as vacinas brasileiras serão muito mais baratas e suprirão a enorme demanda para reforços das vacinações contra a covid-19, enquanto a doença for endêmica na população. “O Brasil é uma das maiores referências mundiais em produção de vacina e pode contribuir muito com o esforço mundial de desenvolvimento dessas vacinas contra novas doenças que tendem a aparecer com uma certa frequência a partir do momento em que há um desequilíbrio ambiental planetário”, afirmou ele.
Financiamento
Para o pesquisador, o domínio dessas novas tecnologias é de fundamental importância para o desenvolvimento cada vez mais rápido das vacinas, mas tudo depende de financiamento. “A associação aos grandes laboratórios é essencial nas fases clínicas, mas o apoio precisa vir também do poder público para que a ciência brasileira desenvolva novas tecnologias que resultem em vacinas e para a formação continuada dos pesquisadores que conduzirão esses trabalhos num futuro próximo”.
As pesquisas citadas nesta matéria foram financiadas pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) na Chamada MCTIC/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit Nº 07/2020 – Pesquisas para enfrentamento da COVID-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves e pela UFV na Chamada UFV/PPG 01/2020 Apoio a ações de combate à pandemia causada pelo novo coronavírus.
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