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HEADER – DESTAQUES VALE DO AÇO – BNDF

Pequenas empresas resistem, apesar da falta de apoio

Comerciantes, prestadores de serviços e industriais lidam com uma realidade desafiadora meio a critérios de flexibilização desiguais nos municípios da RMVA.

A pandemia do novo coronavírus que impõe medidas de isolamento social veio como uma reviravolta na vida das pessoas e das empresas. De uma hora pra outra, estudantes, famílias, empregados e empregadores tiveram que enfrentar novos desafios sem que, para tanto, estivesse preparados. A ausência de diretriz única, união, estados e municípios, cada um a seu modo, verbalizam nos meios de comunicação determinações antagônicas, gerando um “salve-se quem puder”. Pior que isso, quando as orientações se tornam determinações, sobretudo, no modelo de flexibilização das medidas de isolamento, após mais de 50 dias.

A indústria, de uma forma mais amena foi afetada. Procurou se adaptar com medidas de biossegurança e conseguiu como se manter em produção, em boa parte dos seus segmentos, estendendo ou duplicando jornada, colocando trabalhadores da área administrativa em regime de home-office e colocou boa parte em férias ou jornada reduzida para se adaptar a demanda.

Já o comércio e serviços, altamente calcados no relacionamento interpessoal, concentração de pessoas em espaços fechados e manuseio de objetos não pode evitar os impactos das medidas impostas. Com isso, especificamente nas quatro cidades da Região Metropolitana do Vale do Aço, lojas foram fechadas, restaurantes, hotéis e bares dispensaram empregados e muitos já fecharam seus estabelecimentos.

Exemplo de enfrentamento dessas dificuldades é o empresário Leonardo Leite. Engenheiro Agrônomo de formação, há menos de dois anos trocou seu emprego na Infrater, empresa que presta serviços urbanos à Prefeitura de Ipatinga para empreender, assumindo uma pizzaria de sucesso no bairro Olaria em Timóteo, a Pizzarezo. A pizzaria oferece rodízio de pizzas e recebia volume expressivo de pessoas em quase todos os dias de semana. Para celebrar aniversários e formaturas, famílias marcavam e reservam mesas para se reunir para comemorar juntos aos demais clientes. Com aproximadamente 40 colaboradores, o empresário viu seu time ser reduzido a 23 entre afastados, prestadores e colaboradores sob-regime CLT, uma vez que atua,agora, somente no modelo delivery. “É duro se desfazer de um colaborador cuja idade, acima de 50 anos, impõe grandes desafios para a sua recolocação no mercado de trabalho, mas a gente tem que fazer enquanto pode cumprir com os compromissos advindos de uma rescisão de contrato. É muito triste”, observa Leite. A opção por manter as “portas abertas” vai na expectativa de as coisas voltarem a normal. “O delivery é apenas 20% do faturamento, o que hoje não dá para cobrir todas as despesas, mas é melhor “pingar do que secar”, explica o empresário.

Flexibilização desigual

Para Leonardo, cada município tem adotado modelos diferentes que acabam por privilegiar o comércio de uma cidade da outra. Exemplo disso ele observa o que acontece em Timóteo. “o decreto impõe horário de atendimento ao público até às 20h30min. Abrimos às 18h30min e o pico de chegada do público é justamente no horário que o decreto impõe que fechemos. Optamos por não reabrir para colocar toda a nossa infraestrutura, que somente ficaríamos abertos por 1 hora e meia”, justifica Leite.

Outro aspecto que tem gerado muita insatisfação é a atuação do poder público. Estabelecimentos fecham as portas as 20h30min, mas as pessoas que já estavam sendo atendidas não podem ser convidadas a sair sem que tenham concluído seu consumo. Notificações foram realizadas em alguns estabelecimentos. Segundo Leonardo, em grupo de whatsapp que faz parte, comerciantes questionam que perdem clientes para negócios estabelecidos na vizinha Coronel Fabriciano, menos de 10 minutos da maioria dos bairros de Timóteo. “Entendo que deveria ter uma padronização de condutas nas 4 cidades. Somos uma região metropolitana, os municípios são muito próximos um do outro!”, indaga o Pizzaiolo.

Já, na indústria, semana passada, uma comitiva de representantes de associações ligadas à indústria brasileira foi até ao presidente Jair Bolsonaro para discutir competitividade e apoio para a retomada mais rápida da economia sendo, então, surpreendida com a participação em reunião no Supremo Tribunal Federal (se dirigindo a pé). Essa semana, com direito a empresário “peladão”, o presidente conversou por videoconferência com a nata da indústria paulista pedindo apoio para pressionar governadores, prefeitos por meio, também, dos deputados, para extinguir o isolamento.

No Vale do Aço, a indústria metalomecânica que vinha em momento mais auspicioso, as incertezas e a necessidade de mudança de rotas predomina entre os empresários. “Fazemos parte de diversas cadeias produtivas. Na siderurgia, desemboca na ponta em montadoras de automóveis. Na mineração, desemboca na exportação para países da Europa e asiáticos – principalmente a China. Estamos aguardando a retomada da economia”.

Já a indústria da moda foi muito afetada, sobretudo, pela falta de demanda dos comerciantes. Durante esses mais de 50 dias de isolamento social, o comércio de roupas e afins não se enquadrou como serviço essencial e esse fluxo natural de reposição de estoques praticamente inexistiram. O mesmo aconteceu com a indústria de uniformes, no Vale do Aço, a sua maior, a Provest, mudou a linha de produção para fabricação de máscaras. Não demitiu (possui algo em torno de 200 colaboradores) e chegou contratar alguns novos.

“Novo Normal”

A questão que se avista é como viveremos ou conviveremos com medidas de distanciamento ou isolamento social por muito tempo. Que negócios poderão encontrar ambiente para se desenvolver em meio a um princípio consagrado para a sua boa consecução: O ganho escalar.

O ganho escalar pressupõe em comércio, serviços e entretenimento a sua viabilidade econômica. No entanto, sem que haja uma vacina ou remédio para combater a Covid-19, isso se perde. Em Ipatinga, a decisão em primeira instância pela manutenção do fechamento de Shopping, academias, bares e restaurantes foi confirmada nessa sexta-feira (15) pelo TJMG, ao negar recurso e mantém liminar que fechou shopping e restringiu bares e restaurantes com isso, o Shopping continua com atendimento delivery enquanto bares e restaurantes, além do delivery podem efetuar a venda para retirada no local, vedado consumo interno. A fuga dos lojistas já é fato e o medo do não soerguimento do Shopping pós-pandemia é real.

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