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O caso Backer. Até que ponto o consumidor está seguro?

A contaminação de diversas marcas da cervejaria de BH abre questão sobre segurança industrial.

 “O ano era 1999. Enquanto as grandes cervejarias dominavam o mercado cervejeiro, uma demanda por cervejas especiais surgia, solitária, sem que quase ninguém reparasse nela. Quase. Inspirados pela coragem e persistência, os irmãos Lebbos decidiram que o sonho que tinham em comum iria se tornar realidade. Assim, aos pés da Serra do Curral e pelas mãos dos irmãos Lebbos nasceu a Backer, a primeira cervejaria artesanal de Minas”. É assim que a história da cervejaria Backer é contada no seu site institucional. Agora, uma trajetória de sucesso poderá ser interrompida e um caso dos mais graves de contaminação por bebidas sem par na história industrial recente do país pode interromper um movimento que, de alguma forma, tem incomodado os grandes conglomerados industriais multinacionais. No início do ano, exames acusaram a presença da substância dietilenoglicol no sangue de ao menos três pacientes internados. Uma pessoa morreu, no dia 7 de janeiro, em Juiz de Fora (MG), e recentemente mais duas falecerem. Ao todo a contaminação causou o óbito de quatro pessoas e hospitalizou 17 pessoas.

Tóxico, o dietilenoglicol costuma ser usado em sistemas de refrigeração devido a suas propriedades anticongelantes. Exames realizados pelo Instituto de Criminalística comprovaram a presença da substância em amostras da cerveja pilsen Belorizontina, da Backer (lotes L1-1348 e L2-1348), que foram recolhidas nas residências de pacientes internados. Em seguida, desdobramentos fizeram com que a própria Backer incluísse todas as marcas e o Ministério da Agricultura impôs o recolhimento de todos os lotes em todos os estabelecimentos que vendem as cervejas.

Estamos seguros?

Avassaladora, a cultura da conexão (redes sociais e grupos de Whatsapp) trataram de disseminar informações de toda sorte. Dessa vez, menos fake News e mais cidadania. No entanto, uma questão se abre. Qual o nível de fiscalização do poder público sob os produtos industrializados em larga escala?

No caso de produtos de origem animal, o brasileiro está muito familiarizado com a sigla “SIF” (O Serviço de Inspeção Federal) vinculado ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA. Atualmente, o SIF tem atuação em mais de 5 mil estabelecimentos brasileiros, todos sob a supervisão do DIPOA.

Cerveja Backer uma das marcas que podem estar contaminada pelo dietilenoglicol.

O selo surgiu quando foi editado o primeiro regulamento para a criação do serviço de inspeção dentro dos estabelecimentos processadores. Até receber o carimbo do SIF, o produto atravessa diversas etapas de fiscalização e inspeção, cujas ações são orientadas e coordenadas pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa).A questão é? E os produtos industrializados (como cervejas cuja origem é vegetal)?

SISB -POV

Pesquisando, Negócios Já! encontrou, no âmbito do Ministério da Agricultura, como equivalência com os mesmos objetivos de inspeção, fiscalização, inocuidade e qualidade dos produtos, O Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal – o SISB-POV. Esse sistema (federal) busca, nos estados (distrito federal e municípios), a adoção das mesmas medidas necessárias para garantir que as inspeções e fiscalizações de produtos e insumos agropecuários sejam efetuadas de maneira uniforme, harmônica e equivalente.

A pergunta é: estamos seguros? Complexo de se afirmar que, esses órgãos consigam garantir, a todo tempo, que práticas e processos industriais estejam em conformidade e sanitariamente garantidos para que a população brasileira possa, sem receio, consumir toda a sorte de produtos industrializados e, até voltar, por exemplo, a beber cervejas artesanais sem desconfiança (Belorizontina também!).

A questão é que ainda se espera a adesão de estados, Distrito Federal e municípios ao Sistema, o que, de alguma forma possa coloca-se sob suspeita que casos como o da cervejaria Backer poderiam ser evitados.

Gestão de Crise

Nos anos 70, em Belo Horizonte também, houve uma contaminação por conta de uma bactéria do ovo do Macarrão Adria. Pessoas passaram mal e foram hospitalizadas, mas nenhum óbito. Na oportunidade, localizaram e recolheram os lotes, atenderam prontamente as famílias. Como ato principal de “Gestão de crise” compraram espaço no Jornal Nacional divulgar nota de esclarecimento da empresa. Décadas depois, a marca ADRIA continua sendo bem comercializada em todo país. A pergunta é se a Backer está se saindo bem na “gestão de crise” a ponto de retomar sua trajetória de crescimento (como descrita no site institucional) e permanecer no mercado. Não ser lembrada como a cerveja que matou “gente”.

Até o momento, a cervejaria não apresentou ação coordenada junto à opinião pública para que o pré-julgamento oferecido pela mídia já a condenasse por toda e qualquer responsabilidade mesmo que, no futuro, as investigações confirmem crime de sabotagem ou algo alheio a sua capacidade de previr e evitar falhas de processos.

No mesmo site da empresa, há de forma sucinta uma nota com quatro linhas colocando-se a disposição dos familiares e ratificando sua confiança nas investigações e a contratação de uma perícia independente. Mas, é muito pouco para quem está com sua reputação na berlinda. A Backer, provavelmente orientada por advogados, expõe-se muito pouco na sua própria defesa deixando que as investigações que caminharam na última quinta-feira(16) para o mandado de busca e apreensão, cumprido pela Polícia Civil,  em uma distribuidora que fornece o monoetilenoglicol para a cervejaria Backer, em Belo Horizonte. A empresa fiscalizada fica em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Indubitavelmente, durante muito tempo a marca vai ser lembrada como a “cerveja que matou gente” e, seu futuro, até o momento, é pouco promissor.

Perdas e danos

Independentemente de ser um erro de processo, uma sabotagem de ex-funcionário(hipótese que continua a fazer parte da linha de investigação) ou problemas no fornecedor, a responsabilidade legal e criminal é da Backer, pois a análise de todos os lotes, por meio de amostragem laboratorial, é um dos protocolos de segurança que deveria ser adotado, o que até então parece ter sido  negligenciado e realizado posteriormente.

O aprendizado que fica para todos da cadeia (cervejeiros,  consumidores,etc.)pois, punições pesadas deverão acontecer, o setor poderá ser mais regulado e as exigências poderão, em última análise, desacelerar o crescimento das cervejas artesanais no país, o que pode dar munição para as “teorias conspiratórias” que colocam o interesse das grandes corporações (Ambev, Brasil Kirin, etc.) como pano de fundo dessa crise da Backer.

 

 

 

 

 

 

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