Em entrevista exclusiva à Negócios Já!, o diretor-presidente da principal cervejaria da região, Rildo Souza, da Bruder, comenta a trajetória de sucesso e como o caso Backer não afetou as vendas das 8 marcas do portfólio.
O diretor-presidente da Cervejaria Bruder, Rildo Souza, em entrevista exclusiva para Negócios Já! Falou do crescimento da cervejaria nesses 8 anos de existência. Uma trajetória que começou com uma pequena fabriqueta no distrito de Vale verde, Caratinga, que passou pela estratégia de escoamento da produção em bares e boates próprios da marca chegando à consolidação de envasamento em garrafas por uma fábrica moderna no distrito industrial de Ipatinga.
Como um ícone do leste mineiro no mercado de cervejas artesanais (ou melhor denominadas “gourmet”), a visão de quem está vivendo um momento diferente de um mercado em franco crescimento e que vive seu primeiro revés, o “Caso Backer”, cervejaria de Belo Horizonte que está à voltas com suposta contaminação de bebidas pelo dietalinol, Rildo nos ofereceu um painel do momento e os efeitos que se seguiram após o impacto das mortes.
NJ!- A Bruder nasceu como empreendimento familiar. Lembro-me de você e seu irmão Rogério nas entregas a domicílio dos chopes artesanais em festas. Como imaginar o culto das cervejas artesanais e que aconteceria esse boom nos últimos anos no Brasil?
Realmente, foram tempos de muita garra. Eu e meus irmãos nos dividíamos com outras atividades e, de boca em boca, fomos crescendo. Para enfrentar as grandes marcas já consolidadas e que tinha por trás uma multinacional, caminhamos para a locação e aquisição de estabelecimentos onde nosso chope poderia ser vendido. Apenas o nosso chope era comercializado para os frequentadores desses bares ou casas noturnas. Observando que país afora algumas marcas migravam para o envasamento em garrafas de 600ml fomos percebendo uma oportunidade e partimos para esse segmento com nossos próprios rótulos. O consumidor passou a degustar as cervejas apreciando detalhes do seu sabor. Hoje já possuímos 8 marcas.
NJ – E quais são as 8 marcas?
– Bruder pilsen
– Baixa gastronomia – pilsen
– alma cevada – pilsen – essa e nosso lancamento
– bruder red lager – amber lager
– coquinho azedo – fruit beer
-Trindade- porter
– ipa
– weiss
NJ – Qual a área de atuação da Bruder? Onde as marcas podem ser encontradas?
Hoje, estamos presentes em Minas Gerais, temos boa aceitação na RMBH. Além disso, já chegamos na Bahia, São Paulo e nesse momento estamos negociando a nossa chegada ao Espírito Santo, especificamente a região da Grande Vitória.
NJ – Como foi o impacto do “Caso Backer” para vocês?
Surpreendentemente, as vendas tiveram ligeiro aumento. Talvez explicado pela migração de apreciadores da Backer para nós. A Backer possui 60% do mercado de cervejas artesanais. Acreditamos que esse parte desses consumidores pode ter migrado para as cervejas tradicionais, num primeiro momento, mas a maioria migrou para outras marcas.
NJ – vocês usam o dietilenoglicol no seu processo produtivo? Qual a função dessa substância?
Não. Usamos um produto cuja performance é até menor, o álcool etílico, no processo de resfriamento. O monoetilenoglicol é outro usado normalmente, contudo ele alterar suas propriedades para o dietilenoglicol é comum. Só que tanto para o Ministério da Agricultura quanto para a Polícia Civil, a identificação de como a contaminação se deu é muito desafiadora, uma vez que essas substâncias não ficam, em hipótese alguma, em contato com a cerveja em nenhuma etapa do processo de fabricação. A refrigeração dos tanques de cerveja é feita por meio de um circuito fechado. O álcool com água gelada vai passando por tubos chamados de “serpentina” ao redor do tanque de cerveja. Seja o álcool utilizado no processo de fabricação da Bruder quanto o dietilenoglicol (se utilizado pela Backer) não têm contato direto com a cerveja.
NJ – Partindo do pressuposto que o álcool etílico venha a entrar em contato, o consumidor perceberia?
Imediatamente. A alteração no sabor inviabiliza a degustação. Infelizmente, no caso do dietilenoglicol, ele não é percebido e, com isso, sua ingestão pode causar os sintomas já elencados pela saúde pública, podendo, como comprovado, levar até a morte.
NJ – A Cervejaria Backer, dentro dessa crise, apresentou uma defesa ainda que tímida. Utiliza-se de um espaço na Home do seu site, entrevistas coletivas raras,sendo que a contratação de uma auditoria externa por sua conta foi vista como de pouco apelo à opinião pública. A “Gestão de Crise” poderia ser melhor?
Não podemos afirmar nada nesse sentido, uma vez que estamos distante dos fatos. O que ouvimos falar é que a família que dirige a cervejaria (como aqui também somos família na Bruder) sentiu muito. Estão muito abalados com as mortes e as pessoas hospitalizadas. Cabe a todos apoiarem disseminando a informação correta para não ingestão dos lotes condenados, orar pelas pessoas contaminadas e pelos seres humanos que estavam conduzindo a Backer (que jamais poderiam imaginar serem imputados por algo parecido).
NJ – É a primeira vez que uma contaminação no processo produtivo de uma cervejaria acontece no Brasil?
Acredito que sim. É aí que incide a dificuldade para as autoridades chegarem a causa, uma vez que é um evento sem par. Sem referências.
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O que é o dietilenoglicol?
A substância química dietilenoglicol (DEG), encontrada no sangue de pelo menos dois dos oito homens hospitalizados em Minas – também presente em lotes da cerveja Belorizontina recolhidos nas casas dos pacientes – não poderia estar na composição da bebida. Ela é altamente tóxica. A solução tem um uso industrial muito comum em fábricas que precisam refrigerar máquinas durante o processo de produção. Outro exemplo é a utilização em radiadores automotivos: o chamado líquido de arrefecimento resfria o funcionamento do motor.
Em cervejarias, o fluido, composto por água e DEG, circula pela parede externa do tanque de fermentação, resfriando o conteúdo interno. Isso é necessário porque a temperatura da cerveja durante a fermentação tem que ser mantida baixa, entre 8 e 10 graus, sendo, então um uso indireto. Em nenhuma etapa, o DEG é misturado ao alimento, pois é considerado tóxico. Ele não tem função saborizadora, espessante ou adoçante
A molécula de dietilenoglicol é vendida por indústrias já sintetizada. Além de baixar a temperatura, serve como anticongelante. A água, por exemplo, congela a 0 graus. Se eu misturada DEG com água, o líquido permanece nesse estado físico em temperaturas mais baixas, tornando o processo de refrigeração mais eficiente.
O dietilenoglicol pode ser usado nas serpentinas, do lado de fora do tanque da cerveja como anticongelante. Mas, por ser um produto caro e substituível por álcool etílico puro, as pequenas produtoras geralmente optam por não usar. Como no caso da Bruder.