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2019: O ano do “ainda não” na siderurgia

Aço, que impulsiona a Região, tem ano de ataques do protecionismo americano, falta de investimentos em infraestrutura e projetos de ampliação de produção engavetados. 

No congresso Brasileiro do Aço de 2018, primeira vez que contou com a cobertura do Portal “N”, da Revista e suplemento de jornal “Negócios Já!” havia um ambiente de expectativa, mas muito mais de otimismo dos executivos das siderúrgicas brasileiras. Naquele momento, tomava posse na presidência do conselho do Instituto do Aço Brasil, órgão que congrega todas as gigantes da siderurgia brasileira, o presidente da Usiminas, Sérgio Leite de Andrade. Sérgio, em entrevista coletiva e mesmo nos demais painéis ao longo da programação do evento apresentava a retomada do consumo pré crise (antes de 2015) somente após 2021. Coincidência ou não, era para esse ano que o conselho da Usiminas aprovara a reforma do alto forno 3.

No painel do analista político do Estadão, Murilo de Aragão, em que fazia projeções políticas para o 2º turno presidencial entre Bolsonaro/PSL e Haddad/PT, havia uma expectativa muito grande para que um projeto liberal se instituísse no país incluindo a iniciativa privada como motor das grandes transformações na infraestrutura assim como as privatizações das estatais que propiciariam maior dinamismo econômico e leveza ao estado.

No entanto, o ano de 2019 foi frustrante para o setor. O congresso brasileiro do Aço em que nossa enviada especial, a jornalista Mara Bianchetti, acompanhou toda a programação o ambiente não era o mesmo. O que se apresentava, em 2018, no governo Temer como ameaça de taxação do aço (25%) e do alumínio (10%) e o estabelecimento de cota de 25% nas exportações  por Trump não era, nem de perto, o pior que poderia acontecer para o setor, após o início do novo governo. Redução mês a mês no consumo aparente, preço em queda no mercado internacional e crescimento tímido do PIB delinearam um quadro que levou às siderúrgicas como a CSN acelerar seu processo de desinvestimento (venda de mineradora e participações em outros negócios) assim como o conselho administrativo da Usiminas surpreender, em sua última reunião do ano, adiando para 2022 a reforma do alto forno 3.

Redução de investimentos e problemas ambientais

Para a Usiminas, especificamente, foi um ano em que 1 bilhão de investimentos previstos para 2019 não se concretizou da forma como se esperava. Em conversa com o presidente Sérgio Leite em último encontro com a imprensa em 2019(antes do adiamento da reforma do AF3) Negócios Já! questionou as razões pelas quais, em julho, já se projetava redução de 200 milhões prevendo o máximo de 800 mi do 1 bi projetado. “Tivemos problemas com atrasos nos processos de licenciamento ambiental de algumas inciativas o que nos indicou que parte dos investimentos não poderia ocorrer dentro do ano e, por isso, somente por isso, não se concretizará a totalidade e informamos ao mercado” explica o CEO da Usiminas.

Outros problemas enfrentados foram na área ambiental, especificamente com o Ministério Público do Meio Ambiente de Ipatinga. As partículas sedimentáveis, o “Pó Preto”, inimigo que a população tinha como praticamente eliminado entre os anos 1990 e a primeira década de 2000, ressurgiu impondo a atuação do órgão executivo impondo condições em TAC para que a empresa tomasse providências no sentido de mitigar a sua propagação principalmente nos bairros próximos de Ipatinga. A resposta foi imediata e canhões de vapor foram instalados nos pátios de matérias-primas da siderúrgica, além do aperfeiçoamento dos mecanismos de monitoramento. As redes sociais tiveram papel determinante tanto na apresentação das dificuldades advindas do pó preto assim como na relação da empresa com a comunidade.

Greves e aquisições na Gerdau

laminador da siderúrgica da Gerdau em Pindamonhangaba

Na Gerdau, em São José dos Campos, os metalúrgicos entraram em greve no fim de setembro meio à campanha salarial. Já em novembro, o conglomerado siderúrgico, adquiriu a Siderúrgica Latino-Americana (Silat), por 110,8 milhões de dólares, para expandir alcance no país (a Silat, instalada em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, é uma laminadora de aços longos com capacidade para 600 mil toneladas anuais).

O acordo envolveu compra de 96,35% da Silat das espanholas Hierros Añon e Gallega de Mallas, afirmou a Gerdau em comunicado ao mercado.

CSN – mineradoras sob desconfiança, desinvestimento e recuo nos resultados

Planta da CSN em Volsta Redonda

Com a tragédia de Brumadinho no início do ano passado, as barragens das mineradoras da empresa passaram a ter atenção redobrada da opinião pública a ponto da prefeitura de Congonhas, município mineiro em que se desenvolvem as operações da Barragem Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), instalada próxima (300 metros) de bairros residenciais de Congonhas, na Região Central de Minas Gerais, serão encerradas. O anúncio foi feito na tarde desta quarta-feira (30) pela prefeitura da cidade.

Já nos resultados, O grupo CSN teve prejuízo líquido de R$ 871 milhões no terceiro trimestre, revertendo resultado positivo de R$ 752 milhões obtido um ano antes e cortou em cerca de 12% sua projeção de resultado operacional em 2019. A empresa segue com seu plano de desinvestimento (venda de ativos minerários e participações em outros negócios) para reduzir a sua dívida bancária.

Arcellor Mittal

Novo sistema de placas da Arcelor Mittal tubarão em Vitória/ES.

 

No Brasil, a ArcelorMittal diminuiu o intervalo de crescimento esperado para o consumo aparente de aço em 2019 de 1% a 2% para 0,5% a 1%, devido a atrasos em gastos com infraestrutura, à continuidade da desestocagem e aos impactos causados pela recessão argentina.

Ternium Brasil

Planta da Ternium Brasil, ex-CSA, no Rio de Janeiro

Se por aqui os negócios de placas tem sua produção totalmente vendida com acordos internacionais com laminadoras (incluindo as do próprio grupo no México e Argentina), a empresa vê com apreensão a queda dos preços internacionais assim como as medidas protecionistas dos Estados Unidos, principal cliente do NAFTA, acordo de livre comércio da América do Norte. Destaque positivo vai para a inovação e tecnologia com a introdução de robôs na aciaria. A siderúrgica investiu cerca R$ 24 milhões no total de 4 robôs. Esses robôs realizam até sete tarefas como a medição de temperatura, adição de material de cobertura e retirada de amostra. Outro destaque vai para a sustentabilidade operacional. Pela primeira vez no Brasil, o gás biometano começou a ser utilizado na operação de uma siderúrgica. Com combustível renovável proveniente do Aterro Sanitário de Seropédica, na Zona Oeste do Rio, a Ternium vai substituir mais de 30% do consumo de gás natural fóssil por uma fonte mais sustentável. A substituição por biometano constitui importante iniciativa da empresa para melhoria de sua eficiência no que se refere à emissão de gases do efeito

estufa.

 

Expectativas 2020

 

Continuam sendo para a retomada do investimento público e ajustes por parte do governo para as condições de competitividade no mercado doméstico para o aço brasileiro com o aço importado, sobretudo, o chinês. Negócios Já! conversou no fim do ano passado e publicou aqui mesmo entrevista com o Diretor Executivo do Instituto do Aço Brasil – IABr, Dr. Marco Polo de Mello Lopes, que em entrevista exclusiva, apontou que o grande problema está no excesso de capacidade instalada em um mercado que está abaixo dos patamares de 2007. Mas há, em sua avaliação, um horizonte positivo no Brasil, com um novo governo, com a aprovação da reforma da Previdência e com o avanço das negociações em torno da reforma tributária.

 

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