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Lula chama FHC de subserviente e diz que vice ainda não está definido

Começo hoje, conforme anunciei, a publicação de minhas matérias dos candidatos que visitaram o Vale do Aço durante as eleições gerais de 2002. O primeiro será o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vencedor daquele pleito, derrotando no segundo turno o candidato tucano José Serra. 

Lula visitou o Vale do Aço ainda na fase de pré-campanha, como presidenciável. Naquele época não se usava, ainda, a expressão “pré-candidato”.  Ele aqui esteve no dia 22 de março, uma sexta-feira. Leia abaixo a íntegra da matéria. 

As imagens foram reproduzidas de uma reportagem da TV Uni, de Coronel Fabriciano e são de Jorciélio Bastos, com reportagem de Roberto Nogueira. 

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O candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticou ontem o estado de subserviência do presidente Fernando Henrique Cardoso às medidas do presidente norte-americano George W. Bush, que levaram imposição de sobretaxas de até 30% para a importação do aço brasileiro para os EUA.  A colocação foi feita durante a visita do presidenciável a Ipatinga, onde participou de um ato político suprapartidário em defesa da siderurgia nacional.

A solenidade, que aconteceu no final da manhã, no salão nobre do Ipaminas Esporte Clube, no Cidade Nobre, marcou o início da campanha de Lula rumo ao Palácio do Planalto. Antes, o presidente de honra do PT esteve às 6h na portaria 2 da Usiminas, no Centro, onde cumprimentou e conversou com operários que faziam a troca de turno. Logo depois, seguiu para uma visita na Usina Intendente, sendo recebido pela diretoria da siderúrgica. Ao final da programação, retornou para São Paulo, onde participaria, à noite de uma reunião do diretório nacional do PT.

O ato político de ontem, apesar de ter sido organizado pelo Partido dos Trabalhadores, contou com uma grande participação de militantes do Partido Liberal (PL). Na platéia, as tradicionais bandeiras vermelhas do PT se misturavam às bandeiras brancas dos liberais, que em alguns momentos até gritavam, ainda que timidamente, o nome do candidato petista. Para mostrar na prática essa política de boa vizinha, o secretário geral do PL em Minas, Fábio Caldeira, foi convidado para compor a mesa que dirigiu os trabalhos.

Sem reação

Na visão de Lula, a sobretaxa do aço tem de ser olhada com a devida atenção por FHC. “Medidas como essas trazem grandes dificuldades para a nossa economia, mas infelizmente o presidente não faz nada. Simplesmente abaixa a cabeça e aceita sem esboçar qualquer reação”, disse.

Lula destacou que a questão é tão séria que a previsão de prejuízo para as industrias siderúrgicas nos próximos três anos é de US$ 482 milhões, ou R$ 1,2 bilhão. “Uma perda dessa magnitude certamente trará graves conseqüências na cadeia produtiva nacional e causar desequilíbrio na balança comercial. Nossa visita aqui hoje (ontem), faz parte da estratégia do PT em mostrar que o Brasil precisa ser mais competente na sua política internacional. Não é possível o Governo brasileiro aceitar essa taxação ao aço sem recorrer a Organização Mundial do Comércio (OMC)”, lembrou.

Na visão de Lula, o problema é gravíssimo, pois o Brasil tem uma relação comercial intensa com os EUA, sendo que apenas eles têm vantagens nesse comércio. “Nós impomos uma tarifa de apenas 13,5% nos 15 principais produtos que os EUA exportam para cá, enquanto eles impõem uma taxação de 45% aos 15 principais produtos que exportamos”.

Afronta

Para Lula, o momento deve ser encarado com “firmeza, sem perder a compostura”. “Como eu já disse, a OMC é o instrumento legal para resolver esse tipo de assunto. A gente vê todo o dia a canadense Bombadier brigar com a Embraer por conta da fabricação de aviões e os países da Europa brigarem com a China. Nós também temos que buscar os nossos direitos e nos defender”.

Além de impor a sua força junto a OMC, Lula defende a imposição de barreiras aos produtos norte-americanos, defendendo os interesses brasileiros. “Se nós ajudamos a fundar uma entidade mundial para zelar pelos interesses da coletividade é lá dentro que temos que buscar nossa defesa. Queremos tratar as outras nações com respeito, mas exigimos que os outros países também nos tratem no mesmo nível”.

Para Lula, episódios como o ocorrido recentemente, onde o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, foi obrigado a tirar por três vezes o seu sapato durante visita aos EUA, com intuito que fosse inspecionado é inaceitável. “O ministro tem o passaporte vermelho, que garante imunidade diplomática em qualquer lugar do mundo. Mas o pior dessa história não foi tanto os americanos pedirem isso. Foi o (Celso) Lafer aceitar fazer. Se fosse comigo eu pegaria o avião na mesma hora e voltava para casa, pois tal atitude é uma afronta ao povo brasileiro”.

Discussão em torno do vice vai até o último momento

Há pouco mais de seis meses das eleições presidenciais, Lula não quis adiantar, por enquanto, quem será o seu vice. Disse apenas que ele pode mesmo ser do PL, caso as negociações com a legenda dos liberais evoluam ou até mesmo de dentro do próprio PT. “Ainda temos um mês e meio de negociações; temos esperança de juntar os partidos de oposição do governo neoliberal do presidente Fernando Henrique Cardoso; temos esperança de trabalharmos junto aos setores de oposição ao governo dentro do PMDB. Portanto, não temos pressa de termos um vice agora. Temos é que trabalhar para conseguirmos mais aliados nesta empreitada que começa agora. Se não for possível um vice de fora, vamos escolher um companheiro nosso para compor a chapa. Mas a minha esperança é de juntar muitas pessoas e lideranças em torno de minha candidatura”.

Quanto a sonhada coalizão com o PL, Lula vaticinou: “não é hora de precipitar nenhuma decisão. A hora é de aguardar”. Acreditamos que a regra da verticalização ainda pode cair e isso é claro vai mudar o jogo político”.

Observadores

Lula comentou a posição do ex-presidente José Sarney, que defendeu a presença de observadores internacionais nas eleições de 6 de outubro.  “Vocês que estão aqui são testemunhas que em época de campanha existem veículos de comunicação que parecem um panfleto, defendendo determinado candidato. Mas eu não acho que seja necessário observadores internacionais. O povo brasileiro tem maturidade suficiente para participar de uma eleição e o que precisa é o estabelecimento de regras claras e mecanismos de fiscalização pelo TSE e pelos partidos. Não precisamos de gente aqui para tomar conta de nosso nariz. Não somos um país colonizado e quem precisa de observadores são os norte-americanos, uma vez que a última eleição deles deu no que deu”.

Para Lula o fim de todos esses problemas é a instalação do financiamento público das campanhas, com a proibição de doações de dinheiro de empresas. “Isso acabaria com a corrupção eleitoral no Brasil, mas infelizmente não conseguimos aprovar essa lei”.

Imagens TV Uni – Jorciélio Bastos

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