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Morre Eliezer Batista, reinventor da Vale

Morreu nesta segunda (18), aos 94 anos de idade, de insuficiência cardíaca, no Hospital Samaritano, Rio de Janeiro, o ex-ministro e ex-presidente da Vale Eliezer Batista. Eliezer era engenheiro e ocupou o ministério de Minas e Energia durante o governo João Goulart. No governo Fernando Collor de Mello, foi secretário de Assuntos Estratégicos. Ele começou a trabalhar na Vale em 1949. Em 1961, foi nomeado presidente da mineradora pela primeira vez, sendo afastado com a deposição do presidente em 1964, que instituiu o Regime Militar.

Após experiência na iniciativa privada, retornou à presidência da Vale em 1979. Sob seu comando, a companhia desenvolveu o Projeto Ferro Carajás, hoje o principal polo produtor de minério de ferro do Brasil. Eliezer era viúvo de  Jutta Fuhrken, com quem teve sete filhos, entre eles o empresário Eike Batista. Ele se casou pela segunda vez em 2009, com Inguelore Sheunemann Batista.

Àqueles que, em dúvida, perguntavam se a pronúncia correta de seu nome era “Eliézer” ou “Eliezér”, o engenheiro Eliezer Batista da Silva costumava responder: “At your option” (em tradução livre, “como você preferir”). Em uma só frase mostrava duas de suas muitas características marcantes: as citações frequentes em um dos oito idiomas que dominava e a capacidade de adaptação.

Eliezer Batista nasceu em 1924, em Nova Era (MG), onde ingressou na Companhia Vale do Rio Doce. Com Eliezer, a Vale se transformou de uma pequena mineradora que extraía ferro das montanhas de Minas Gerais – mas deixava nas mãos de terceiros todos os passos seguintes, como venda, beneficiamento, transporte – em uma das maiores do mundo. E a terceira maior empresa do Brasil de acordo com o ranking da revista “Exame”, com vendas líquidas de US$ 27,99 bilhões em 2013, atrás apenas da Petrobras e da BR Distribuidora.

De suas ideias, vistas muitas vezes como megalomaníacas, surgiram marcos do desenvolvimento nacional, como o porto e a siderúrgica de Tubarão, no Espírito Santo, e o projeto Carajás, no Pará. O segredo para a ascensão da empresa, dizia o engenheiro, era o “planejamento sistêmico-holístico”. “O que adiantava ter ferrovias se havia um gargalo no porto? Tive um estalo. Era tudo questão de logística”. ‘Logística’ vem do grego logistikos, aquele que sabe calcular racionalmente. E isso Eliezer fazia muito bem.

Ao assumir a presidência da Vale pela primeira vez, em 1961, aos 36 anos, tinha como meta tornar a empresa responsável por todas as fases, da extração do minério à entrega a compradores do outro lado do mundo. Queria também aumentar a exportação de minério de ferro, à época na faixa de 1,5 milhão de toneladas/ano e, quem sabe, vender o produto já beneficiado, com preço mais alto. “Nenhum país fica rico exportando apenas matéria-prima”, dizia.

Encontrou nos japoneses os parceiros ideais. O país precisava da matéria-prima para reconstruir seu parque industrial, destruído na Segunda Guerra Mundial. Neste ano, Eliezer Batista fez a primeira de suas 178 viagens oficiais ao Japão. Firmou contratos de venda de longo prazo e capitalizou a Vale. Mas precisava de um porto que recebesse navios de grande porte para tornar o negócio rentável.

Em sua imaginação, os navios sairiam do Brasil abarrotados de minério de ferro e voltariam com petróleo árabe. Se não fechasse a equação, a operação seria economicamente inviável. Com o apoio do então ministro da Fazenda, San Tiago Dantas, conseguiu tirar do papel a construção do porto de Tubarão, no Espírito Santo.

Orçado em US$ 100 milhões, o projeto não encontrava financiadores. Convencido da importância do novo porto, San Tiago Dantas mandou, nas palavras de Eliezer, “rodar a guitarra”: imprimir mais dinheiro para bancar as obras. “Hoje levaríamos um tiro na fronte desses fundamentalistas da moeda”, disse em depoimento aos jornalistas Luiz Cesar Faro, Claudio Fernandes e Carlos Pousa, para o livro “Conversas com Eliezer”, publicado em 2005.

Faltavam os navios. Nos cálculos do engenheiro, seriam necessárias embarcações com capacidade para transportar 120 mil toneladas de carga. No início dos anos 60, os maiores navios brasileiros levavam 10 mil toneladas; o maior do mundo levava 35 mil toneladas. “Armadores europeus disseram que aquela ideia era a mais louca desde que Vasco da Gama contornara o Cabo da Boa Esperança”, contou.

Premidos pela necessidade do minério, estaleiros japoneses embarcaram na aventura e ajudaram Eliezer. Deram-lhe, ainda, a condecoração da Ordem do Sol Nascente, a mais alta honraria do país e que lhe foi entregue pelo imperador Hiroito.

Teve sete filhos: Helmut, artista e coreógrafo; Werner, empresário que mora em Boca Ratton, na Flórida; Harald trabalha em uma empresa de criação de ferramentas high tech para finanças em Palo Alto, na Califórnia; Lars, envolvido com a indústria de videogames, e Monika, arquiteta, vivem em São Francisco; Dietrich, que se formou em medicina na Alemanha, voltou para o Brasil e montou uma empresa de informática; e Eike, aquele que, segundo o pai, herdou seu espírito empreendedor.

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