O empresário Guilherme Quintella, que lidera desde 2013 o projeto da Ferrogrão, a ferrovia de mil quilômetros que ligará o Mato Grosso aos portos do Pará, reduzindo o custo logístico do agronegócio de Mato Grosso, afirmou que o país precisa de mais equilíbrio entre os modais de transporte. Segundo ele, se o Brasil tivesse mais planejamento no setor, teria mais ferrovias, mais cabotagem, melhores rodovias, mais produção, mais consumo, menos acidentes, mais respeito ao meio ambiente e até mesmo caminhoneiros mais bem remunerados.
Único brasileiro no board da International Union of Railways (UIC) que vai se reunir em Paris daqui a um mês para discutir o futuro da ferrovia no planeta, Guilherme Quintella revelou que custa caro ao país não ter ferrovia, algo em torno de US$ 100 bilhões por ano: “No Brasil a logística custa 15% do PIB, contra 8% nos Estados Unidos. A média mundial é 10%. Ou seja, o Brasil desperdiça algo como 5% do PIB com a ineficiência logística e privilegiar modos de transporte menos eficientes. Poderíamos construir a cada ano 37 mil quilômetros de ferrovias de carga, ou 7 mil quilômetros de trens intercidades que andariam a 200 km/h”.
O empresário explicou que o Brasil desistiu das ferrovias logo depois da Segunda Guerra Mundial, quando a cultura do automóvel tomou conta do mundo, muito influenciada pelos Estados Unidos: “À época, o Banco Mundial só financiava a construção de novas rodovias se em contrapartida o governo brasileiro erradicasse trechos ferroviários existentes. Repare que este fenômeno não ocorreu em nenhum outro país do mundo. Todos eles impulsionaram os dois modos de transportes”.
Perguntado por que o empresário geralmente reclama do custo logístico, mas que discute pouco o assunto ferrovias, ele disse que o prejuízo é de todos os brasileiros. “O cidadão desperdiça o seu salário quando ele paga 5% a mais, por exemplo, do que poderia pagar pelo rolo de papel higiênico se o país tivesse uma matriz de transporte mais equilibrada. Muitas vezes ele imagina que este problema é da indústria, da agricultura, do comércio, esquecendo que eles repassam o custo para os preços dos seus produtos”.
Guilherme Quintella comentou que Brasília não deixa de ser um grande símbolo do abandono gradual das ferrovias no Brasil. “É a única capital importante do planeta que não tem uma monumental estação ferroviária. O investimento público em transporte no Brasil alcançou 2% do PIB em meados dos anos 1970, e desde então só caiu. Em 2017, foi de apenas 0,16% do PIB. Já que o governo não tem capacidade para investir, ele deveria concentrar sua agenda de curto e médio prazo em duas frentes para atrair capital privado para os projetos, especialmente o capital estrangeiro”.
Continuando, explicou que primeiro é necessário planejar um programa robusto de ações e investimentos que faça com que o Brasil reduza em 30% os seus custos logísticos, para que possa alcançar a média mundial. Segundo, concentrar esforços para que o país possa desenvolver ações, regulamentações ou desregulamentações, se for o caso, que possam proporcionar viabilidade aos projetos que estão nas prateleiras e que precisam de investidores privados. “O Brasil está em 139º lugar no ranking de competitividade internacional, onde entram as questões de logística e transportes”, concluiu.