Após algum tempo de espera e silêncio, algo finalmente bate as asas entre árvores e arbustos na região do Cocais das Estrelas, no município de Antônio Dias, a mais de 800 metros de altitude. O gesto, apesar de sua simplicidade e singeleza, arrancou fortes emoções das 10 pessoas que participaram, no sábado 13 de janeiro, da primeira edição do “Vamos Passarinhar no Vale do Aço?”. Munidos de binóculos, roupas especiais e máquinas fotográficas, algumas de última geração, os observadores puderam acompanhar os voos e o comportamento dos passarinhos, das mais variadas espécies. Apesar dos poucos segundos que duraram cada observação, para os participantes, o êxtase provocado vai durar uma eternidade em suas lembranças.
A atividade, internacionalmente conhecida como birdwatching, vem a cada dia ganhando adeptos na região, graças, principalmente, ao projeto desenvolvido pela DUPERD (Associação de Amigos do Parque Estadual do Rio Doce) e ao trabalho conjunto realizado através do “Projeto Turismo no Vale”, desde 2016.
De acordo com a agente de turismo receptivo Ana Cleide Santos, organizadora do evento, a passarinhada foi feita em um trajeto de 30km de estrada, parando em pontos específicos com concentração de aves, observando, fotografando e parando novamente, sempre que o trajeto oferecia oportunidade. “Foi uma agradável caminhada, onde todos ficavam com os olhos fixos na natureza, mas também ouvindo histórias de observação de aves, sempre na expectativa de que algumas delas nos brindassem com sua beleza e liberdade”, explicou Ana Cleide.
Ao seu lado na empreitada, estava o guia Henrique Junior, um dos poucos especialistas na região sobre o assunto, que especificou o teor da atividade: “em todos os lugares existem pássaros e, à medida que a pessoa desenvolve essa atividade, ela quer ver novas espécies e procurar pelas aves que ainda não fotografou”.
Esperando a próxima
Entre os integrantes do passeio do último final de semana em Cocais das Estrelas, havia desde veteranos a novos interessados, que já incorporam o estilo calmo, sereno e tranquilo dos praticantes da atividade. É o caso do profissional de TI Márcio Bersot, que participou da atividade e tem um grupo de amigos que gostam de fotografar a natureza. Ele considerou proveitosa a experiência: “Eu não tenho muita vivência em fotografar passarinhos, mas estou adorando e vou repetir várias outras vezes”.
Outro participante entusiasmado do evento, o médico urologista Renato Cunha, disse que sempre pedala na estrada do Cocais das Estrelas, mas foi surpreendido: “passo aqui, várias vezes, de bicicleta e não tinha visto tantas espécies de pássaros igual a hoje. Achei sensacional! Valeu a pena.”
Já a artista visual Rita Bordone, arrematou poeticamente as aventuras vividas durante o passeio: “Entre saís, saíras, surucuás, almas de gato, cuitelões e tantos outros cantos e cores, assim foi a manhã da nossa passarinhada. Quem venham outras!”
Antes do “Vamos Passarinhar no Vale do Aço?” o “Projeto Turismo no Vale” – criado por meio de uma parceira do Circuito Mata Atlântica (CTMAM) e o Sebrae/MG, – ajudou a organizar atividades como o Encontro Técnico para Observadores de Aves, em março do ano passado. Na oportunidade, estiveram na região a bióloga Tietta Pivatto, especialista em ecologia e ecoturismo e do publicitário Fred Crema, mestre em meio ambiente e desenvolvimento regional e conhecido guia naturalista especializado em observação de vida selvagem. Esse encontro impulsionou a realização do “Vem Passarinhar MG”, em outubro, levando quase 100 pessoas de todo o Estado ao Parque Estadual do Rio Doce.
Apesar do interesse recente, atividade cresce exponencialmente
Os birdwatchers do Vale do Aço, podem se considerar pessoas privilegiadas. Morando em área cercada pela Mata Atlântica e que, além das montanhas e vales, tem como atrativo principal o Parque Estadual do Rio Doce. No ranking nacional, Minas Gerais está bem posicionada, com 777 espécies, o que rende ao Estado a quinta posição nesse quesito.
O Vale do Aço apresenta alto potencial para o desenvolvimento no setor, já tendo registrado aqui mais de 350 espécies diferenciadas e muitas delas ameaçadas de extinção. O Brasil é o segundo país em número de espécies de aves – 1.919, ficando atrás apenas da Colômbia.
A atividade de observação de aves é praticada por muitos milhões de pessoas em todo o mundo e o Brasil já conta com mais de 30 mil observadores. Somente nos Estados Unidos, mais de 47 milhões de pessoas declaram-se observadoras de aves e cerca de 18 milhões praticam a atividade. Nas terras do Tio Sam, o passatempo já se tornou um supernegócio, que gera mais de 600 mil empregos e movimenta quase US$ 106 bilhões por ano.